Exumação é o ato de desenterrar. Segundo as leis brasileiras, ela deve ser feita apenas através de autorização judicial, com o intuito de auxiliar na investigação de casos de morte suspeita, suicídios ou testes de paternidade. Além disso, pode-se solicitar a exumação em caso de superlotação dos cemitérios, mudança da família, ou algum outro caso em que seja necessário. Na última semana, assistimos no Brasil o STF alterar a legislação, realizando a exumação de um cadáver político.

Aguardou-se exatamente o tempo legal para a realização do procedimento, algo após os três anos do sepultamento. Parecia algo já planejado. Segundo alguns juristas e reportagens, o Ministro Edson Fachin poderia ter tomado essa decisão há algum tempo, mediante os diversos pedidos realizados pelos advogados do ex-presidente Lula da Silva. Aqui não será o caso de discutir se a decisão cumpriu a lei ou não, até porque a Justiça é a grande responsável por simplesmente haver sociedade. A existência da Justiça impede as reações exacerbadas dos indivíduos às ações realizadas por outrem, especialmente quando geram algum tipo mais forte de ressentimento. A Justiça permite que o direito individual, o maior deles, seja respeitado.

Quando da morte de um indivíduo, aqueles mais próximos sofrem e levam um certo tempo para se readequarem e retomarem suas vidas. Assim foi com a classe política brasileira, que já tinha seguido com a sua, após a passagem do ex-presidente. Sujeito condenado por dois crimes, sem os direitos políticos, aliviando o Brasil de ter que continuar assistindo ao seu projeto de poder, que já estava há dezesseis anos em construção, primeiro consigo, e em seguida elegendo uma porta (um poste ainda pode dar alguma luz), lastreado em seu perfil populista, que jogou o país na maior crise econômica de sua história.

As investigações da Lava Jato trouxeram à tona o maior crime que já se viu contra o patrimônio público, e isso não há decisão que trate de esconder. Aqui não se viverá uma mudança do passado. “Mensalões” e “petrolões” jamais serão apagados. Crimes de “caixa 2” não serão minimizados. Esqueceremos do porteiro Francenildo? E dos financiamentos a empreiteiras pelo BNDES para obras em Cuba ou na Venezuela? Foram muitos os casos.

Esse mau trato com a coisa pública trouxe à ribalta da política brasileira uma figura que frequentava seus inferiores. Surge com um discurso nacionalista, pregando um estado mais forte, trazendo aquilo que a população precisava ouvir, de liberdade econômica e de combate à corrupção. População que já não aguentava mais estar soterrada em escândalos, e flertando com um desemprego de quase 15%. Uma figura que nunca havia votado em nenhum projeto liberal, e que, eleito mais por rejeição a seu adversário que por si mesmo, ajudado ainda por um atentado à sua vida (que apesar de abominável, realmente desperta emoções e reações de simpatia por aquele que o sofre), mostra-se um líder incapaz, estúpido até.

Agora, o país se vê entre esse inepto que ocupa a Presidência da República, cercado por gente desqualificada, e um cadáver político que se levantou da sepultura em que estava, atraindo ainda uma série de seguidores zumbis, com a esperança de voltar ao poder, ambos com propostas populistas semelhantes. Os verdadeiros liberais anseiam por uma opção competitiva, mais ao centro, que coloque o país na direção das decisões equilibradas, sem populismos, adequando o espaço do Estado na vida do cidadão às externalidades causadas pelas decisões individuais.