No seu discurso de posse, exibindo a cara de nojo da humanidade, Donald Trump declarou: “America’s decline is over”. Está falando de quem, cara pálida? A América é um vasto continente formado por 35 países independentes, pequenos e grandes, com pouco mais de um bilhão de habitantes. Os Estados Unidos são o maior país, mas representam 32,5% da população de toda a América. E apenas dois países – Brasil e México – têm mais americanos que todos os estadunidenses, os cidadãos dos Estados Unidos, e o seu presidente pretende construir um muro separando-os do resto da América.
Com algumas exceções, os países desta grande América, incluindo o Brasil, vêm se arrastando, há anos, num crescimento econômico modesto e com grandes dificuldades estruturais. Mas não se pode falar em declínio dos continentes que compõem a América, na medida em que a maioria dos seus países, com diferentes orientações e ritmos, tem se integrado à economia mundial e diversificado as parcerias comerciais, em parte liberando-se da quase exclusiva relação comercial e, mesmo política, com os Estados Unidos.
Trump pode falar do declínio dos Estados Unidos, mas não tem autoridade para se referir à América, por mais que os estadunidenses tenham se acostumado a assumir a propriedade da denominação do vasto continente, apresentando-se como americanos. Na verdade, o declínio da “América” de que fala Trump, diz respeito, em última instância, ao fim da hegemonia unipolar dos Estados Unidos, que se deve, principalmente, à emergência de novas potências econômicas no mundo, com destaque para a China. De forma discreta e acelerada, a China vem ampliando a sua presença econômica e comercial em todo o planeta, incluindo o continente americano. A bipolaridade ou multipolaridade global é uma tendência difícil de reverter pela simples vontade do governo estadunidense. E, ao contrário do que Trump propaga (e que os seus seguidores comemoram), a sua estratégia isolacionista e anacrônica – protecionismo, estímulo à velha economia fóssil, restrições à entrada de mão de obra imigrante e retirada dos acordos de instituições multilaterais – pode levar ao declínio do império estadunidense. Considerando que se trata da maior economia do mundo, o declínio e o isolamento dos Estados Unidos são também muito negativos para o planeta. Trump é um desastre global.
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