Alimentos

Alimentos

É justa a apreensão do presidente Lula da Silva com a elevação exagerada dos preços dos alimentos (inflação de 7,69% contra 4,83% da taxa de inflação geral) porque penaliza, sobretudo, a população de renda baixa. Sem duvidar dos sentimentos sinceros do presidente da República em relação aos pobres, a preocupação de Lula com a inflação de alimentos é, principalmente, política. Pesquisas recentes mostraram uma queda significativa da popularidade do presidente e do seu governo (especialmente entre os pobres e nordestinos, sua principal base de apoio), provocada pela inflação de alimentos. Ocorre que os benefícios sociais concedidos pelo governo Lula que levaram a um aumento da renda da população pobre (aumento real do Salário-Mínimo, com impacto nos benefícios da previdência e no BPC-Benefício de Prestação Continuada, e nas modalidades do Bolsa Família) estão sendo comidos pelos elevados preços dos alimentos. O que demonstra que não adianta aumentar a renda da população, por mais positivo que seja, se não houver uma correspondente elevação da oferta. 

São muitas as causas da inflação e, particularmente, da inflação de alimentos. E o preço de cada produto alimentar é determinado por fatores diversos. Carne, açúcar, milho e café, commodities nas quais o Brasil é um dos grandes exportadores, têm o preço muito influenciado pela taxa de câmbio; e foi a forte desvalorização do Real no final do ano passado que provocou o aumento dos preços destes produtos. Como a volatilidade do câmbio é influenciada pela política macroeconômica, o governo é parte do problema, embora no caso do café tenha havido também uma quebra de safra internacional. Os preços dos outros produtos agrícolas – tubérculos, raízes e legumes – flutuam com a sazonalidade e são sensíveis a fenômenos climáticos que fogem ao controle governamental. 

Por razões políticas, mais que sociais, o governo se apressou a anunciar um plano para enfrentar a alta dos preços dos alimentos, concentrado na isenção do imposto de importação de dez produtos, especialmente carne, açúcar, milho e café. Medida de eficácia duvidosa. Como são commodities exportadas pelo Brasil com preços internacionais cotados em dólar, vão passar pelo custo de transação e da logística antes de chegar nas prateleiras dos mercados. Outros componentes da proposta governamental, como a prioridade para a cesta básica do Plano Safra, podem influenciar muito pouco no preço, e a médio prazo; e, dependendo das condições climáticas do próximo ano, os preços cedem sem necessidade do plano. Para o governo, o que vale é o gesto político de enfrentamento do problema. O resultado pode ser muito tímido e nem depender de ações governamentais. Mas o presidente Lula disse que, se as medidas anunciadas não reduzirem a inflação dos alimentos, poderá adotar “ações drásticas para conter a elevação dos preços”. Bravata. O governo sabe que tabelamento de preços tem o efeito contrário na economia popular.