Nos primeiros anos de década de noventa do século passado, a África do Sul, ainda dominada pelo Apartheid, estava na iminência de uma violenta guerra civil da maioria negra da população, que não suportava mais a repressão e a discriminação do governo racista da minoria branca. Na prisão há 26 anos, Nelson Mandela era o grande líder da luta mundial e africana contra o racismo e talvez a única personalidade política que poderia conduzir a África do Sul a uma transição para a democracia política e racial. Naquele ano, quando se iniciaram as primeiras conversas do presidente branco Frederik de Klerk com Mandela, ainda na prisão, um grupo de pesquisadores fez um estudo de cenários para a África do Sul que explorava quatro possibilidades. Se as conversas não levassem a um acordo, a guerra civil seria inevitável (Cenário Avestruz), com consequências dramáticas para o país e para todo o continente africano. Se houvesse um acordo, mas a transição enfrentasse dificuldades, bastante previsíveis diante da radicalização dos dois lados em conflito, o cenário seria de paralisia e conflitos continuados que poderia mesmo desembocar na guerra civil (Cenário Pato Manco). Mas, se houvesse uma transição rápida com a implantação de um governo multirracional, não haveria guerra civil. Neste caso, o futuro dependeria das políticas que seriam implementadas pelo governo da maioria. Caso se deixasse levar por arroubos imediatistas e populistas, o país avançaria, mas com agravamento dos fundamentos econômicos e rápido esgotamento (Cenário Ícaro). Finalmente, acordo concluído, transição rápida e políticas econômicas e sociais responsáveis e estruturais, a África do Sul viveria o melhor cenário (Voo do Flamingo). Mandela, que completou ontem 95 anos, foi o estadista que preparou este cenário, soltou as amarras que permitiram o voo alto e seguro do grande pássaro.
Conselho Editorial
Mandela serve para demonstrar quanto pode valer um líder.