Guerra

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Depois de massacrar a Faixa de Gaza, destruir a sua infraestrutura e matar mais de 50 mil palestinos, num crime contra a humanidade, de desrespeito aos direitos humanos e violência a todas as regras internacionais, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, tenta consolidar sua hegemonia no Oriente Médio com a agressão militar ao Irã. O ataque com mísseis a bases militares e o assassinato de generais e cientistas iranianos teriam a pretensão de desmontar o programa nuclear do país persa, que poderia, em poucos anos, construir uma bomba atômica. Com o apelo da sobrevivência existencial de Israel, que estaria ameaçada pelo Irã, Netanyahu tenta conseguir mais apoio político à sua própria sobrevivência como chefe do governo israelense.

Netanyahu pretende que Israel continue sendo o único país do Oriente Médio detentor de armas nucleares de destruição em massa. Mas pretende ir mais longe na sua hegemonia regional. Em vários pronunciamentos, Netanyahu não escondeu a sua intenção de destituir o governo do aiatolá Ali Khamenei, numa ingerência adicional em uma nação independente. Pode-se gostar ou não do governo ditatorial e fanático dos aiatolás do Irã, mas Israel não tem autoridade ou direito de atacar e agredir militar e politicamente outro país, independentemente da sua estrutura de poder. Nem mesmo considerando que o inimigo pode vir a deter um artefato nuclear que provocaria novo equilíbrio de poder no Oriente Médio, e criaria um “equilíbrio do terror” na região: os dois grandes inimigos contidos num eventual uso da bomba nuclear, por temor da resposta, um do outro.

É verdade que o governo dos aiatolás não merece a menor confiança, de modo que um Irã com artefato nuclear tornaria o mundo menos seguro. Mas, convenhamos, dá para confiar no governo do senhor Netanyahu? Para a segurança e a paz mundial, é preferível que o Irã não entre no reduzido grupo de países detentores de bomba atômica. Por isso, várias nações impõem sanções econômicas, e o presidente Barak Obama tinha firmado entendimento com o governo do aiatolá, que suspendia o programa nuclear iraniano de uso militar e aceitaria o monitoramento da Agência Internacional de Energia Atômica. No seu primeiro mandato, Trump anulou o acordo, e vinha agora encaminhando novas negociações, atropeladas pelo bombardeio de Israel. O presidente dos Estados Unidos está dando total apoio à agressão de Israel, e acaba de exigir a capitulação incondicional do Irã, para impor depois a suspensão do programa nuclear. Trump foi procurado pelo governo do Irã para negociação e respondeu: ”Eu  disse que é tarde demais. O Irã deveria ter negociado antes. A paciência acabou”. E, numa máxima arrogância e desfaçatez, o presidente dos Estados aconselhou a população de Teerã a evacuar a cidade, de nove milhões de pessoas”.

Os Estados Unidos vão impor a suspensão do programa nuclear do Irã. Mas esta agressão israelense vai deixar um rastro de ódio e ressentimento que não ajuda em nada à paz no Oriente Médio. A desnuclearização do Oriente Médio deveria passar pelo desmonte das ogivas nucleares de Israel.