“Florestas do meu Exílio” tem tudo que é necessário para um grande livro. É uma história de amor entre João e Janete Capiberibe. Um livro de aventura extrema, em alguns momentos parecendo criação de um ficcionista especializado no gênero do suspense. Dezenas de personagens surpreendentes, com seus retratos e desempenhos elaborados com a maestria de grande escritor. É um livro sobre a generosidade humana, e também sobre a maldade de outros seres humanos. Um livro de história das ditaduras latino americanas. Sobre a força de vontade de sobreviver diante de todas as adversidades, torturadores, perseguidores e da geografia. Mas, é sobretudo um livro que tem o que mais se necessita na obra literária: um estilo rico em detalhes e ao mesmo tempo cheio de força e rasgos poéticos, que nos agarra, emociona e ao, concluir a leitura, deixa vontade de reler.
O estilo vem desde a primeira frase: “Chamava-se José Ataíde o “piloto” da canoa a vela que me levou do coração da Ilha Marajó a Macapá”; até a última: “Ao olhar a paisagem, vi o mundo coberto de gelo e senti o frio congelando os ossos. Estávamos no Canadá, nosso país do futuro.” Para contar a história, entre um e outro destes dois momentos, Capiberibe utilizou o genial artifício literário de fazer a narrativa como um diálogo entre ele e Janete com um dos personagens mais interessantes da história: Don Jose. Um homem pobre que em um pequeno povoado no altiplano boliviano, recebeu-o em sua casa, em um dos momentos mais difíceis da viagem.
Na véspera de sua partida de Desaguadero, na beira do Lago Titicaca, ele e Janete passam a noite contando o relato inacreditável, por ser verdadeiro, da primeira parte dos 6.200 quilômetros de fuga da prisão em Belém do Pará até Santiago do Chile, acompanhados desde o início pela pequena Artionka que fez seu primeiro aniversário no meio da aventura e depois mais um casal de gêmeos gerados e nascidos no caminho.
Com este livro João Capiberibe, ex-prefeito, ex-governador, senador descreve sua epopéia na prisão, na fuga, no longo percurso por barco pelo Amazonas sabendo que sua captura e da Janete poderia significar a morte dos dois; suas incríveis peripécias ao chegar à fronteira com a Bolívia e sua marcha até Puno no Peru, enfrentando um golpe militar neste país que significaria a deportação; e, depois de tanto esforço que exigiu até mesmo ter de conseguir dinheiro cantando em praça pública em um povoado peruano, ao chegar ao exílio chileno, quando a vida parecia se acalmar, o golpe pinochetista interrompeu a tranquilidade obrigando-os a nova fuga.
Este é um livro de leitura apaixonante para qualquer leitor, e um testemunho que orgulha a geração que produziu dois heróis e dois militantes como João e Janete Capiberibe.
Preciso ler esse livro. Meu irmão Nelson Rosas conheceu o autor e personagem na então União Soviética, onde ambos estiveram, e me falava muito bem dele. Só me falta agora conferir no seu relato.
Interessei-me pela leitura.
Vivi, durante a Ditadura Militar, nos porões do Esquadrão da Morte, nos Doi-codis da época, na temida OBAN, nos Presídios Tiradentes e Carandiru, depois fugas e vida nos paises gelados da Europa. Creio ter algumas coisas em comum com os personagens da obra.
Quero saber onde encontrá-lo, onde posso obtê-lo.
Até breve, Paulo Emílio.
Vou ler! Tenho sede de aventuras épicas com heróis reais, num mundo onde a hegemonia dos vilões nos deixa sem referências para acreditar em alguma coisa mais comprometida com nossos sonhos para o futuro e com nossas lutas passadas.
Só agora li essa apreciação do Cristovan sobre o livro do João. Já me emocionei só com a apresentação feita, antecipação das fortes emoções que me esperam quando na leitura do próprio livro. Conviví com João e Janete na ligeira passagem deles pelo Recife (acho que durante pouco mais de 1 ano), na vinda do exilio vivido no Canadá. Eles eram muito amigos de Pedro Albuquerque e da então mulher dele, Tereza Cristina Albuquerque (minha prima–irmã), que compartilharam o exilio canadense, e da minha ex–mulher, Rosane Rodrigues (falecida), companheira deles no exílio chileno. Vou procurar o livro. Compartilho, integralmente, da mesma sede registrada pelo velho companheiro Aécio Gomes de Matos, “de aventuras épicas com heróis reais, num mundo onde a hegemonia dos vilões nos deixa sem referências para acreditar em alguma coisa mais comprometida com nossos sonhos para o futuro e com nossas lutas”.
Me contagiou a apresentação do do livro feita pelo Cristovam Buarque. Deve ser uma beleza, muito pelo que o Aécio Gomes de Matos diz com muita pertinencia, e pela viagem ao passado. Tambem estou nesta. Já liguei para a Cultura, que tem em estoque, e já reservei o meu.