O futebol tornou-se uma atividade esportivo-cultural altamente globalizada. Esta globalização crescente se manifesta na abrangência do interesse e das emoções que desperta (mais de dois bilhões de pessoas vão assistir aos jogos) e pelo volume de negócios que mobiliza em todo mundo (bilhões de dólares só em transmissão e publicidade). Mas a globalização é mais evidente na enorme mistura de nacionalidades e culturas nas grandes equipes e nas diversas seleções que participam agora da Copa do Mundo. Nesta elite do futebol mundial, a maioria dos atletas joga em times da Europa, vários dos jogadores dividem ou já dividiram posições e disputaram torneios nas mesmas equipes, especialmente os latino-americanos (destaque para os brasileiros). A intensa globalização na elite do futebol cria uma mistura cultural que tende a eliminar a diferenciação de estilos que reflete as características culturais de latinos e anglo-saxões. Gilberto Freyre dizia (já anos 30) que o futebol brasileiro é diferente do europeu pelas qualidades de surpresa, manha, astúcia e ligeireza que são parte da nossa cultura. O futebol latino seria dionisíaco enquanto o europeu era apolíneo, lógico, racional, programado e disciplinado. O cineasta italiano Pier Paolo Pasolini é da mesma opinião distinguindo o futebol poesia, praticada pelos latinos, do futebol prosa dos europeus; a poesia no ato individualista do drible, do passe inspirado, da inovação, e a prosa baseada no jogo coletivo, organizado e disciplinado. Será que este processo de integração global e de mistura de culturas e estilos não estaria acabando com as diferenças? Os latinos difundindo na Europa a cultura do improviso individual e, por outro lado, nossos atletas apreendendo tática, jogo coletivo, disciplina e planejamento? Neste caso, melhoram todos. Por outro lado, a competição na Copa pode tornar-se muito mais equilibrada e excessivamente técnica. Mas, felizmente temos a poesia de Messi, Iniesta, Neymar e Cristiano Ronaldo (upa! latinos?).

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