Copa de 70, no auge da ditadura militar, o Brasil em peso torceu com fervor pela seleção brasileira no meio de um raro sentimento nacionalista no país, alimentado pelo acelerado crescimento do chamado “milagre brasileiro”, devidamente explorado pelo governo repressivo do General Emílio Garrastazu Médici. Ainda hoje se canta o “Pra frente Brasil” dos noventa milhões em ação. A esquerda (presa, exilada ou clandestina) decidiu torcer contra o Brasil para não favorecer a ditadura e a alienação dos brasileiros com aquele “ópio do povo”. Esta intenção politica racional (com alguma carga emotiva de ódio à ditadura) não resistiu aos primeiros lances da bola rolando nos pés daquele time inspirado e brilhante de Pelé, Gerson e Tostão. Todo mundo gritou e pulou (nas prisões, na clandestinidade e no exílio), em cada lance e se emocionou com Carlos Alberto Torres levantando a taça. Agora, quando a Copa do Mundo será no Brasil, surge um sentimento difuso e impreciso contra o grande evento esportivo e mesmo contra a seleção brasileira. As motivações de hoje são completamente diferentes de 1970, sem o teor ideológico da época, embora se manifeste de forma política nas mobilizações de rua contra a Copa. O que existe hoje no Brasil é uma enorme insatisfação da sociedade com a realidade social, com as instituições políticas e com os governos: dramática carência de serviços públicos, corrupção generalizada, violência e completa alienação dos políticos e dos partidos. Expressa a revolta com as falsas promessas e a convicção de que a Copa do Mundo será uma encenação circense extremamente cara para os brasileiros e sem o prometido retorno nas obras públicas. A agora? Vamos torcer?