A turma da Revista Será? fez seu encontro de fim de ano, comemorando a entrada no terceiro ano de atividade. O local foi o apartamento de Teresa Sales em Boa Viagem, que chamo do “útero onde foi concebida a Revista”. Costumávamos nos encontrar, uma vez por mês, estimulados por Homero Fonseca, para um almoço entre amigos com a intenção de “jogar conversa fora”, como se diz aqui no Nordeste. Falávamos sobre política, psicanálise, literatura, falávamos sobre tudo, menos sobre trabalho.
Estes encontros, inicialmente, aconteciam no saudoso Restaurante O Banquete, de Sérgio e Ester, até que naturalmente, atraídos pela generosa hospitalidade de Teresa e — como não citar? — a comida de Dinha, exímia cozinheira da casa, fomos nos transferindo sorrateira e prazerosamente para lá. Com suas ciobas, bacalhaus, camarões e sururus regados com uma boa cerveja, finalizado com café e bolo de massa de mandioca, saído direto do forno, estava montado o nosso lúdico ambiente editorial. Pois bem, foi entre um gole de café e uma fatia de bolo que Sérgio Buarque teve um alumbramento e propôs a criação de uma revista online. Não sei que substância Dinha tinha colocado naquele bolo, o certo foi que todos concordamos na hora. E estamos até hoje.
“…e aí depois… e eu… olhava assim… prú mundo assim… chegava tanta coisa no meu pensamento… que eu nem sabia de onde vinha… aí comecei direto mesmo… sei que até hoje graças a Deus… eu venho cantando… e até hoje… graças a Deus… num passei fome.”
(Cajú, da dupla Cajú e Castanha em depoimento na A Ponte – Lenine)
João Rego, dezembro de 2014
P.S Para quem não conhece, Caju e Castanha é uma dupla de irmãos que, desde pequenos, se apresentavam nas ruas do centro de Recife cantando embolada. Batiam com uma lata de doce, fazendo as vezes de um pandeiro e, com extrema inteligência e agilidade mental, elaboravam improvisos jocosos satirizando o dia a dia do homem comum. Hoje, Castanha já falecido, foram imortalizados no Museu da Língua Portuguesa juntos a Manoel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Oswald de Andrade, entre outros. Transcrevi a gravação de uma entrevista que Lenine utilizou em seu CD quando Caju –, o mais falante dos dois – tinha uns dez anos.
Caros editores e colaboradores: Vou processar a revista, ainda que tardiamente, por haver me excluído do longo e invejável processo de gestação da revista. Luciano me falava dos almoços e da conversa gasta chez Teresa e eu ficava me lambendo de inveja e raspando o prato raso no meu barraco. Bem, antes tarde do que nunca. Depois que provei das amizades e almoços, fiquei desejando que se renovassem pelo menos uma vez por mês.