Elimar Pinheiro do Nascimento*

 

Durante a campanha eleitoral Dilma Rousseff afirmou enfaticamente que teríamos, caso reeleita, um novo governo, com novas ideias. As ideias ainda não temos clareza quais serão, mas o primeiro escalão do governo já sabemos. E ele não tem cara de novo. Ao contrário, mais da metade de seus componentes do primeiro escalão, são de governos anteriores, 25 sobre 39, ou seja, quase 65%. Destes, 15 mantiveram-se nos postos: Luís Inácio Adams, Advocacia Geral da União; Alexandre Tombini, Banco Central; Aloizio Mercadante, Casa Civil; Thomas Traumann, Comunicação Social; Tereza Campello, Desenvolvimento Social; Ideli Salvatti, Direitos Humanos; José Eduardo Cardozo, Justiça; Isabella Teixeira, Meio Ambiente; Guilherme Afif Domingos, Pequenas e Micro Empresas; Eleonora Menicucci, Mulheres; Arthur Chioro, Saúde; Marcelo Neri; Assuntos Estratégicos; José Elito Siqueira, Segurança Institucional; Manoel Dias, Trabalho e Emprego; Vinicius Lages, Turismo. E cinco foram deslocados dentro do governo: Aldo Rebelo saiu do Esporte para Ciências, Tecnologia e Inovação; Ricardo Berzoini saiu das Relações Institucionais para Comunicações; Carlos Gabas, da secretaria executiva da Previdência foi elevado à categoria de ministro; Valdir Simão, que era da secretaria executiva da Casa Civil foi nomeado ministro da Controladoria Geral da União e Gilberto Occhi saiu do ministério das Cidades para o da Integração Nacional. Ademais, cinco ex-ministro foram indicados para o ”novo” ministério: Miguel Rosseto, já foi do Ministério do Desenvolvimento Agrário e vai para a Secretaria Geral; Pepe Vargas, que já foi também ministro do MDA foi para as Relações Institucionais; Patrus Ananias que foi nomeado ministro do Desenvolvimento Agrário, já foi ministro do Desenvolvimento Social no governo Lula; o antigo ministro da cultura do Lula, Juca Ferreira, foi reconvocado e o ex-governador da Bahia, Jacques Wagner, para Defesa, tendo sido no governo Lula ministro do Trabalho e Emprego e das Relações Institucionais.

 

Novos no governo apenas 14, ou seja, cerca de 35%. Destes apenas duas mulheres, e nenhum do PT. Quem renovou foi o PMDB, que manteve apenas um de seus ministros. Nos novos ingressantes o corte conservador predomina, e muito. Com exceção, talvez, da ministra da promoção da igualdade racial.

 

Aparentemente, quatro dos novos ministros são sem partido, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Luiz Vieira, ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, o que indica a preocupação de se aproximar dos Estados Unidos, e manter a posição de pouco protagonismo do Brasil no cenário internacional; na economia dois ex-integrantes do governo Lula e mesmo da atual Presidenta; Joaquim Levy, que já foi secretário do Tesouro Nacional , indicado pelo presidente do Bradesco, que não aceitou o convite para ser o ministro da Fazenda; Nelson Barbosa, que já foi secretário executivo da Fazenda e saiu por divergir da política econômica então em curso, que assume o Planejamento. E, finalmente, e a ela se deve o aparentemente do início do parágrafo, Nilma Lino Gomes, pedagoga formada na UFMG e ex-reitora.

 

Alguns são ícones da direita, como Kátia Abreu, senadora pelo Tocantins, antigo membro do DEM, presidenta da Confederação Nacional da Agricultura, conhecida por suas posições em favor do agronegócio e do desmatamento. De claro cunho conservador é o deputado federal pelo PMDB do RS, Eliseu Padilha, que aliás já foi ministro no governo de Fernando Henrique Cardoso, e que assumiu a pasta, que ninguém sabe porque existe, de Aviação Civil.

 

Outros são políticos com vários processos na justiça, como o ministro dos Transportes, o ex-vereador de São Paulo, Antônio Carlos Rodrigues, também conhecido por sua truculência, representante do Partido Republicano. Outro igualmente enrolado na justiça é o novo ministro do Esporte, que já foi preso com caixas de dinheiro da Igreja Universal, George Hilton, é o representante do PRB, deputado federal por Minas Gerais. Foi execrado pela opinião pública nacional.

 

Há o grupo dos derrotados nas urnas, recompensados pelo apoio à atual Presidenta. O ex-governador do Estado do Amazonas e atual senador, Eduardo Braga, que assumiu a pasta de Minas e Energia, delicada atualmente em função do escândalo da Petrobrás; o líder do PSD, Gilberto Kassab, fragorosamente derrotado nas eleições para o Senado em São Paulo; Armando Monteiro Filho, senador pelo PTB, derrotado para governador em Pernambuco; Helder Barbalho, filho do famoso Jader Barbalho, derrotado para governador pelo Pará.

 

O ex-governador do Ceará, Cid Gomes, que fez seu sucessor e onde Dilma teve uma das mais expressivas votações, foi contemplado com o ministério da Educação, para desagrado das hostes petistas e da maioria dos sindicatos dos professores. É uma incógnita. Como também o é o deputado federal por São Paulo, Edinho Araújo, no ministério dos Portos. Outra das excrecências da atual organização ministerial.

 

A presidente teve muitas dificuldades na montagem do novo ministério. Fez um anúncio por pacotes. Os primeiros nomes anunciados, ainda em novembro, para conduzir a economia e os setores econômicos mais relevantes, agradou ao mercado, mas desagradou, e muito, a parte de esquerda de seu eleitorado. A nomeação dos ministros do Esporte e da Ciência, Tecnologia e Inovação foi outro vexame. O primeiro foi um escândalo por seu despreparo e envolvimento com a justiça. Aldo Rebelo, por sua vez, é um descrente das mudanças climáticas. Opõe-se aos milhares de cientistas que defendem o aquecimento global como algo perigoso para o meio ambiente, a economia e a população mundial. É autor de leis esdrúxulas, e que não pegaram, que restringe o uso de inglês e a adoção de novas tecnologias, além de ser um dos defensores da mudança do código florestal que ameaça a conservação ambiental. O anúncio do setor que conduzirá, com a presidenta, as relações com a sociedade e o Congresso Nacional, dois líderes da corrente interna do PT denominada de Democracia Socialista, foi uma ducha de água fria nos demais setores petistas. A indicação dos demais ministros, representando a base politica parlamentar, foi também aceita com muitas restrições, particularmente Cid Gomes na Educação e Kassab nas Cidades. Ministérios de muitos recursos, visibilidade e valor estratégico, entregues em mão de pessoas sem reconhecimento técnico. Kassab é conhecido por sua esperteza política em criar partido e no Ceará a educação não melhorou em nada ao longo dos dois governos de Cid.

 

Talvez tenham sido as reações negativas às novas nomeações de ministros, e o curto tempo que lhe restava, que fez com que o último pacote (14 ministros e só um novo) de anúncio da composição ministerial tenha se pautada pela conservação do status quo. Aliás, alguns dos ministros confirmados no posto no dia 30 de dezembro já haviam inclusive se despedido de seus auxiliares e amigos em Brasília. Foram surpreendidos pela “preguiça” e “receio” presidencial de mudar. Ademais, que o Procurador Geral da Republica havia recusado de passar os nomes dos políticos envolvidos no escândalo da Petrobrás. Dilma, de certa forma, deixou para depois a nomeação dos novos ministros. A conservação dos atuais, inclusive do Ministério do Turismo, foi uma táctica para ganhar tempo. E ter moeda de troca nas eleições dos presidentes das casas do Congresso Nacional, em fevereiro. Mas, se mudanças vierem, como se espera, não será necessariamente no sentido do novo. Mudanças, mesmo, ocorrerão na economia. E com medidas pouco populares, mas indispensáveis para assegurar o futuro imediato, ou seja, o sucesso de seu mandato, e as eleições de Lula em 2018.

 

*Sociólogo, professor da Universidade de Brasília