O PEC-Projeto de Emenda Constitucional 171/03, que prevê a redução da maioridade penal para 16 anos, entra na pauta do Congresso depois que a Comissão de Constituição e Justiça desconsiderou anticonstitucional. O Brasil vai viver de agora em diante alguns meses de acirrados e apaixonados debates em torno de uma questão secundária no tratamento da segurança pública. Ninguém nega o recrutamento de muitos jovens brasileiros pelas gangs de traficantes e assaltantes para aproveitar a proteção do Código da Criança e do Adolescente. Tampouco se pode ignorar os eventos dramáticos de latrocínio, homicídio e estupro seguido de morte praticados por jovens com menos de 18 anos. Embora muito raros (apenas 2% dos homicídios do Brasil são praticados por jovens), estes fatos provocam grande comoção, precisamente pela juventude dos seus autores, quase crianças, que deveriam estar nas escolas. Mas o problema é outro, muito mais amplo e complexo e que tem várias causas e demandam tempo para sanar. Causas que são ignoradas pelos governantes. Milhões de jovens brasileiros não estudam nem trabalham (só em Pernambuco são mais de 400 mil ou 27% dos jovens entre 15 e 24 anos), vivendo o ócio e a marginalidade que os empurram para a violência e os entregam aos braços dos bandidos. Claro que não se pode perdoar o crime porque seus autores são “vitimas” de uma sociedade injusta, sejam jovens ou adultos. Mas, se não se enfrentam as causas – com educação, capacitação e emprego para a juventude – a redução da maioridade penal não passa de mais uma gambiarra neste país de mentirinha, com seus governantes fugindo da raiz dos problemas para sapatear sobre os efeitos. Outra grave questão que tem a ver com a perpetuação da criminalidade é o degradante e desestruturado sistema brasileiro de ressocialização de apenados, tanto os presídios e penitenciárias para adultos como as instituições de acolhimento de jovens infratores. A idade é importante para o tratamento dos apenados, mas o fundamental está na natureza da infração ou do crime, praticados por jovens ou por adultos. O homicídio praticado por um jovem é menos grave que os roubos ou o comércio ilegal de droga dos adultos? De qualquer forma, tanto jovens quanto adultos devem ter tratamento digno, oportunidades reais de ressocialização, quase impossíveis nas condições atuais. E la nave va!