Como a Grécia, o Brasil está numa crise econômica delicada. Entretanto, não dá para confundir: a gravidade e as características das duas crises são bem diferentes, sendo bem mais sérias no país berço da civilização ocidental. A dívida pública do Brasil flutua em torno de 60% do PIB enquanto o governo grego deve quase 200% da sua capacidade de gerar riqueza. Ademais, a dívida da Grécia é externa, com governos e instituições européias, além do FMI. A dívida pública brasileira é interna, o governo devendo a cada um de nós, que, com diferentes valores, aplicamos no mercado financeiro lastreado em títulos da dívida. A recuperação da economia grega depende de dois fatores: um forte ajuste fiscal e um superávit na balança comercial para acumular Euro suficiente para liquidação das faturas. Deste ponto de vista, a fragilidade da economia grega é muito mais grave e, principalmente, depende das negociações com as autoridades financeiras européias, que agora fazem exigências duras de ajuste fiscal. E as semelhanças? Para começar, no terreno político. Lá e cá houve um vergonhoso “estelionato político-eleitoral”. Na Grécia, depois que o primeiro ministro Alexis Tsipras submeteu-se às pressões da troika, ignorando o “não” de 61% dos gregos, o “não” que ele mesmo tinha defendido. Por outro lado, os dois países padecem de problemas estruturais similares, que dificultam o equacionamento da atual crise fiscal e financeira, particularmente a grande rigidez à baixa das despesas correntes públicas, nenhuma margem para redução dos gastos correntes e, portanto, formação de superávit primário. Em pelo menos um item a situação brasileira parece pior que a grega: na crise de governabilidade e de capacidade política do governo, fustigado pela sua base de sustentação, PT e PMDB, que já se movem abertamente para as eleições presidenciais. Na Grécia, apesar do “não” do plebiscito ao acordo, o Parlamento aceitou a posição do primeiro ministro e aprovou as medidas duras de ajuste exigidas pelos credores. No Brasil, Câmara de Deputados e Senado jogam contra: acabam de inviabilizar a já modesta e difícil meta fiscal do governo com a aprovação do aumento dos benefícios dos aposentados que recebem acima do salário mínimo; um rombo adicional de R$ 70 bilhões de reais, mais do que desejava economizar o ministro Joaquim Levy com um conjunto de outras medidas. A Grécia sofre pressões externas para mais aperto fiscal. O governo brasileiro sofre com os aliados internos no Congresso, que aumentam o rombo fiscal.