Eli S. Martins*

Personagem do filme V de Vingança.

Personagem do filme V de Vingança.

 

De tanta coisa ruim neste País, estou perdendo o humor, a ironia e, daqui a pouco, os leves traços de inteligência que ainda me restam.

 

FILOSOFANDO

Declaração de um filósofo de rua em Brasília: “O Congresso Nacional entrou em recesso, mas a crise não.”

 

A TRAMA DAS FORÇAS DO MAL

O representante da empreiteira Camargo Correa, Júlio Camargo, resolveu fazer uma delação premiada e entre coisas declarou que repassou ao Deputado Eduardo Cunha, atual presidente da Câmara dos Deputados, cinco milhões de reais. A notícia vazou e o presidente rodou a baiana declarando guerra ao governo. Ele responsabiliza ministros, Ministério Público, Polícia Federal, e, sobretudo, Dilma e o Procurador Geral, Janot, de serem os responsáveis por estarmos sabendo que ele está envolvido na corrupção da Petrobras. Depois do chilique procurou o presidente do STF, aquele que sempre votava a favor dos mensaleiros, e este, no dia seguinte comunicou ao juiz Sergio Moro que envie dentro de no máximo dez dias explicações sobre o fato. Cunha quer anular o processo sobre a alegação de que investigação sobre ele só pode ser feita pelo STF. Ou seja, quer que o seu processo caia em um buraco negro do esquecimento, e, com isso, evitar sua cassação. Se possível, melar tudo e anular todo o processo da Lava Jato. Mais um querendo fazer uma pizza do maior escândalo de corrupção já visto neste país e, provavelmente, no mundo. O confeiteiro, meu vizinho, não aguentou: “Agora, além da Presidente, do ex-presidente, de advogados e mesmo policiais da PF, pelo que se soube das anotações do presidente da Odebrecht, entra ministros do STF?”

 

CONSENSOS E DISSENSOS

Há dissenso sobre quase tudo em Brasília relativamente à conjuntura nacional e ao desdobramento da crise. Ninguém sabe onde vai dar tudo isso, em concordância com nossos amigos Sergio e Homero. Por enquanto podem ser visualizadas três hipóteses de futuro, além da continuidade de Dilma, cada vez menos provável. Caso as contas de Dilma sejam rejeitadas pelo TCU em agosto, a Câmara poderá abrir um processo de impeachment contra ela que colocaria na Presidência o atual vice. Michel Temer buscaria formar um governo de união nacional, mas provavelmente com muitos tucanos e petistas na oposição. Caso a contabilidade da campanha eleitoral seja recusada pelo TSE, o desmoronamento será da Presidente e do Vice. Com duas possibilidades de desdobramento: na primeira assume o segundo lugar nas eleições passadas, Aécio Neves, e na segunda, seriam convocadas novas eleições dentro de 90 dias, com Cunha na Presidência durante este período (que Deus nos acuda!). O primeiro caso é temido pelos tucanos e desejado por Lula. Aécio ganharia no tapetão e teria provavelmente um governo sofrível, ampliando as condições de Lula ganhar em 2018 (hoje, segundo as últimas pesquisas da CNT, ele perde no segundo turno para todos os tucanos presidenciáveis: Aécio, Alckmin e Serra). O segundo caso é o sonho dos tucanos, pois, se ocorrer eleições no atual momento, o Aécio ganha e entra no governo com força para formar um governo de união nacional, com os petistas na oposição. Tudo isso em cima do único consenso que está se formando em Brasília: Dilma não dura. Minha secretária doméstica, Dona Isabela, disse-me que já está aprontando as malas. Vai para o mais longe que o seu dinheiro permitir. E só volta quando Dilma sair e a crise passar. Creio que alguém já disse que faria isso. Não era um banqueiro chamado Aguiar? Os tempos mudam. Antes partiam os banqueiros, agora partem as domésticas.

 

ALTO RISCO

Segundo José Roberto de Toledo, em O Estado de São Paulo, Dilma precisa de pelo menos 172 votos a seu favor para não sofrer um impeachment. Ela tem, formalmente, 262. Mas este número pode mudar completamente, caso o PMDB e o PSD troquem de lado. Talvez um só já seja o bastante. A situação é de muito risco. Por isso, a Presidenta, como ela gosta, terá que ceder muito a estes dois partidos. Que o PT se cuide!

 

16 DE AGOSTO

Os analistas não estão tomando na devida conta a manifestação de 16 de agosto. A primeira, em março, deu dois milhões de pessoas nas ruas. Se agora der cinco, ou mais? Cunha vai se sentir autorizado a dar prosseguimento aos pedidos de impeachment já existentes na Câmara dos Deputados. Se ele sobreviver até lá.

 

DERROTA ACACHAPANTE

O Senado votou a PL de aumento dos técnicos do judiciário. Tem gente que vai ganhar mais de 50% de aumento. É um desastre para o governo. Como foi a votação no Senado? 62 a zero. Nenhum dos 13 petistas lá existentes votou contra. Nem a Gleisi, ex-ministra da Casa Civil de Dilma. Deixaram à Presidenta o papel de tomar a medida antipopular – o veto. Com uma situação dessa, para que oposição? Meu vizinho jornalista não aguentou: “A coisa tá russa, chefe!”

 

 

* Um observador anônimo da política nacional.

 

 

***