No processo que levou ao impeachment de Fernando Collor Mello, em 1992, o vice-presidente, Itamar Franco, mergulhou na campanha sem qualquer discrição mesmo sendo o principal beneficiário político do afastamento do presidente. Embora fosse pouco conhecido e uma grande incógnita política, a esmagadora maioria da população brasileira e todas as forças políticas embarcaram na deposição de Collor, que levou à posse de Itamar. Como presidente, o imprevisível Itamar Franco conseguiu montar um governo com amplo apoio político, recompôs a governabilidade e ainda deu início à implantação do Plano Real que mudou o Brasil. Sete anos antes, outro vice, José Sarney tinha assumido o governo brasileiro após a tragédia da morte de Tancredo Neves. Num governo frágil e muito controverso, Sarney ajudou a consolidar a traumatizada democracia brasileira depois de 21 anos de ditadura. Agora, diante de uma nova crise de governabilidade que alimenta um movimento pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, o vice Michel Temer é muito discreto em público e reafirma sua colaboração e defesa do governo; o que não impediu, contudo, que importante revista semanal publicasse esta semana matéria com informações de bastidores segundo as quais, o vice-presidente se prepara para assumir o governo. E, ao contrário de Itamar, que nunca teve a confiança de Collor, Temer foi alçado pela própria Presidente à posição privilegiada de negociador político do governo, função que parece desempenhar com desenvoltura e competência, embora com limitado sucesso. No ar, uma irrecusável pergunta: até onde as negociações políticas de Michel Temer favorecem a governabilidade do governo que representa ou, ao contrário, servem como sua articulação para assumir a Presidência no caso de um eventual impedimento de Dilma? Temer é mais conhecido e previsível que Itamar. No que pode favorecer ou dificultar seus movimentos. Mas terá dificuldades para ganhar confiança da sociedade e dos partidos políticos, a começar pelo PT, que não perdoaria a perda do governo. Karl Marx escreveu que “a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa” (18 Brumário de Luís Bonaparte). Será? E a terceira vez?