Bernardo Sousa Buarque

Ontem completou um ano da maior derrota da historia da seleção brasileira. Um ano depois do surpreendente 7 a 1, entretanto, podemos perceber que pouca coisa mudou na gestão do futebol brasileiro – como ficou evidenciado depois de mais uma humilhante eliminação durante a Copa América. De fato, apesar de todo o apelo popular, a gestão do esporte local continua amadora, incompetente e ultrapassada; afinal, a modernização do futebol nacional passa necessariamente por uma radical mudança de antigos hábitos que atinge os principais interessados no esporte, os diretores e os torcedores.

Nós torcedores, que sonhamos com a profissionalização dos clubes, exigimos também que nossos times disputem e conquistem os principais torneios locais, nacionais e internacionais, independente dos recursos e das condições apresentadas por cada clube. Diante da triste realidade do futebol nacional, o Campeonato Brasileiro apresenta uma das menores média de público do mundo (atualmente somos o decimo quinto campeonato em público, com cerca de 15.000 torcedores por jogo, enquanto que na Alemanha a média é de 43.173 torcedores por jogo) e apresenta receitas baixíssimas para os padrões mundiais. De acordo com a Deloitte, a liga inglesa arrecadou na temporada 2012/2013 cerca de € 3 bilhões, ao passo que, a receita do Brasileirão foi no mesmo período igual a € 850 milhões)., no entanto, demandamos que nossos clubes contratem estrelas reconhecidas, paguem salários astronômicos e invistam na categoria de base, apesar de suas restrições financeiras. Em suma, está cada vez mais difícil manter um time competitivo no Brasil, enquanto as receitas permanecem baixas e os custos não param de subir.

Diante de um difícil dilema, boa parte dos cartolas brasileiros recorre a uma antiga fórmula, o endividamento. Isto é, em vez de buscar sanar as dívidas e equilibrar as finanças, como pregam os defensores do futebol moderno, os clubes brasileiros tomam dinheiro emprestado, não honram seus compromissos e fazem o possível para manter o clube competitivo, a despeito das conseqüências financeiras futuras.

Ontem, no mesmo palco do fatídico Brasil e Alemanha, jogaram Sport e Atlético Mineiro. O jogo foi anunciado como o duelo dos líderes, afinal o vencedor iria assumir a liderança isolada do campeonato brasileiro. O jogo, entretanto, representava muito mais que isso, representava a disputa entre o passado e o futuro do futebol nacional. Se os dois times vivem momentos semelhantes no Brasileirão 2015, ambos apresentam realidades completamente diferentes fora do campo. De um lado, o Sport, um time que vem chamando atenção pela moderna gestão do futebol, considerado pela Pluri Consultoria como a quarta melhor saúde financeira entre os clubes do país – atrás apenas do Atlético Paranaense, Chapecoense e Criciúma. Do outro lado, o Atlético Mineiro, clube que detém atualmente a maior dívida com a União (somando R$ 284 milhões). No total, a dívida do clube cresceu exponencialmente ao longo dos últimos anos; segundo os balanços patrimoniais, a dívida total do clube passou de R$ 285 milhões em 2008 para R$ 414 milhões em 2012. Mais alarmante ainda é saber que, no ano passado, o clube aprovou um orçamento que apresentava um prejuízo de R$ 48 milhões. Sabemos que o Atlético vive, talvez, o melhor momento de sua historia, entretanto, qual o verdadeiro custo do momento atleticano?

Antes de crucificar o Atlético Mineiro, entretanto, devemos notar que o clube representa apenas um sintoma de um perverso sistema de gestão, no qual, é mais interessante gastar o que não pode, tomar prejuízos e não honrar os compromissos para poder disputar o título – afinal, apesar das dívidas, o Atlético Mineiro ganhou a Libertadores e a Copa do Brasil. No atual futebol nacional, onde a maioria dos clubes opta pelo endividamento de forma irresponsável, não atrasar salários e honrar com os compromissos tornou-se uma desvantagem. Que incentivo estamos dando aos nossos cartolas? Para que o futebol brasileiro possa de fato evoluir, é necessário punir severamente os clubes que não praticam o fair play financeiro. Enquanto o clube mais endividado registrar vitórias e títulos, não haverá incentivos para equilibrar as contas. Por enquanto, o modelo brasileiro de futebol é um incentivo ao gasto descontrolado. Lá na frente, alguém vai ter que pagar a conta.