Sérgio C. Buarque

O arroubo do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva declarando que é o conferencista mais caro do mundo, abaixo apenas do ex-presidente Bill Clinton, é um deboche com o povo e um acinte à inteligência dos brasileiros. Segundo afirmou em discurso inflamado, Lula cobra US$ 200 mil dólares (cerca de R$ 800 mil reais) por uma palestra, ganhando em apenas poucas horas da sua fala cheia de lugar comum e autoelogio, o que pouquíssimos brasileiros conseguem em um ano de trabalho duro e mil vezes o salário mínimo mensal de um trabalhador. O Instituto Lula afirma que, em 2013, o ex-presidente foi a Santiago (pago pela OAS, segundo constra), fazer uma palestra para empresários locais sobre o setor elétrico. Por mais que tenha aprendido como governante, será que o ex-presidente está preparado para falar sobre tema tão complexo para uma plateia de empresários, a ponto de pagarem uma fortuna pela palestra?

Claro que o ex-presidente é um homem muito inteligente e que sabe tudo de politica, principalmente da arte da dissimulação, além de ser uma figura carismática e cativante. Mas, vamos refletir: o que os empresários, homens de negócios que buscam retorno nos seus investimentos (a “zelite” perversa, segundo os petistas), esperam receber de uma palestra do ex-presidente? Seguramente não o seu duvidoso conhecimento sobre negócios, economia e setor elétrico. Duzentos mil dólares poderiam valer como pagamento para o lobby que sua influência no governo e nas estatais permite gerar negócios, grandes contratos que, devidamente superfaturados, justifiquem e permitam pagar honorários tão altos.  Segundo Lula, os empresários estão dispostos a pagar honorários tão elevados para ouvi-lo explicar o milagre que ele fêz no Brasil. O “milagre”, Lula? Se houve milagre, o santo é fraco e tudo desmanchou no ar.

Do deboche ao vexame, Lula se vangloria de ter sido o presidente que mais ganhou presentes, até um trono na África, segundo seu discurso raivoso, e que teria saído do Palácio do Planalto com 13 conteineres de presentes. Sua excelência deveria saber, e é estranho que ninguém o tenha lembrado (nem mesmo denunciado), que presentes recebidos por um chefe de Estado pertencem à instituição republica (a Presidência da República) e não ao cidadão que transitoriamente esteve no governo. O Códico de Ética da Presidência da República (Decreto 4081 de 11/01/2002) assinado pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso (e que foi ratificado pelo próprio Presidente Lula em 2009) diz no seu artigo 10 que é vedado ao agente público (neste incluindo, claro, a Presidência da República) receber presentes e aqueles “que, por qualquer razão, não possam ser recusados ou devolvidos sem ônus para o agente público, serão incorporados ao patrimônio da Presidência da República ou destinados a entidade de caráter cultural ou filantrópico, na forma regulada pela CEPR” (Código de Ética da Presidência da República).

Mas, como o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva sempre confundiu o público com o privado (“l’état c’est moi” como já disse um outro rei), está convencido que são seus os presentes recebidos durante o seu mandato presidencial, incluindo o trono africano. Encheu os conteineres de objetos que, muito provavelmente, são patrimônio da União, e levou para um sítio e o armazem oferecidos pelos seus amigos. Talvez seja este o milagre que o ex-presidente deveria explicar nas suas palestras.

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