O Brasil está rachado, fraturado e dividido em dois blocos irreconciliáveis, mesmo com as naturais nuances internas cada lado. Mas a divisão é desigual, no tamanho e na forma. De um lado, uma maioria significativa (quase dois terços dos brasileiros, a julgar pelas pesquisas) repudia o governo do PT e a presidente Dilma Rousseff, revoltada com o desmonte da economia e indignada com a onda de corrupção. Do outro lado, a minoria no governo se mobiliza para impedir o impeachment recorrendo ao discurso ideológico e aos mitos do “milagre” da distribuição do pão. Mas, enquanto a maioria forma uma massa dispersa, desorganizada e sem lideranças, a minoria é conduzida por um partido e liderada por um político carismático e tem irradiação em várias organizações da sociedade, da CUT ao movimento LGBT, identificadas e, principalmente, financiadas pelo governo. Normalmente, as minorias organizadas são hegemônicas, ganhando o apoio ou, no mínimo, a tolerância da maioria, o que vinha ocorrendo nos anos anteriores de domínio petista; não se pode esquecer que grande parte dos brasileiros que se mobiliza agora pelo impeachment da presidente votou nela nas eleições presidenciais de 2014. Diante dos dados e fatos e das evidências da fraude deste governo, a minoria organizada não tem mais condições de manter o domínio político e está isolada, conserva capacidade de mobilização mas não convence a maioria que, mesmo dispersa, desorganizada e sem liderança, converge e se articula, através dos diferentes meios, em torno de um objetivo central: afastar o PT do poder. Independentemente do resultado da votação da Câmara de Deputados, neste final de semana, o Brasil está fragmentado em grandes disputas e profundos ressentimentos que devem ameaçar o futuro. Como tudo indica que o impeachment vai ser aprovado, a minoria organizada vai para a oposição, seja qual for o governo que se constitua em substituição a Dilma. Esta minoria promete uma oposição radical, implacável e intolerante a julgar pelos discursos e mesmo ameaças de algumas das suas figuras de destaque como o representante do MST em discurso recente no Palácio do Planalto. Dias difíceis virão, mas, muito pior seria se o desgoverno continuasse.
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O país está rachado e vocês só defendem um lado da “rachadura”!!!
Este também é o momento de se falar de como será ficar nas mãos de uma oposição que nunca defendeu a igualdade no Brasil…. de questionar….
Acho que este é o momento de a imprensa brasileira ser apartidária e falar dos “podres poderes”.
Fora todos! Fora a corrupção, os corruptos e corruptores, fora a indecência a falta de ética.
Pela reforma política, previdenciária, fiscal. Contra a financeirização da economia. Contra 513 deputados federais que representam somente a si mesmos!
Por um brasil passado a limpo!!!
Muito em tempo o editorial. Na verdade, há uma “queda de braço” entre os dois lados com da um pensando em sí. Seria, como disse Patrocínio, o amor do Prato e não da Pátria. Infelizmente é o que vemos. Na verdade, o (des) governo que aí está, não pode continuar mas… e o que virá? Realmente, ilustre Cristian Leal,
” temos mesmo é que passar a limpo “.
O caminho a ser trilhado tem que ser de respeito à Constituição, como, aliás, está acontecendo com o processo de impeachment. Qualquer que seja o resultado domingo, o rito e o procedimento até agora respeitou rigorosamente a Constituição. A Constituição não prevê um imaginário caminho de “fora todos”. “Fora todos” é como? Vem alguém em uma nave espacial, proveniente do “mundo da lua”, é elimina todos os brasileiros e tira o Brasil do mapa mundi? E esse tal de “passar a limpo” é como? Pega uma borracha na malinha escolar, e passa nos rabiscos? O governo se defende dizendo que o impedimento é golpe, e os comentaristas Critian e Nealdo acham que temos “desgoverno”, mas acham que não deve haver impedimento da atual Presidente, e sim, algum procedimento que acabe com tudo e com todos. Ora, antes disso, tais comentaristas precisam conseguir aprovar alguma nova Constituição.
Helga, o sentimento de muita gente é que “se vayam todos”, como os anarquistas tradicionais e de boa estirpe, porque de fato a nossa classe politica é extremamente corrupta. Mas não há lugar na Constituição, você tem razão, e as mudanças revolucionárias, já nos ensinou o século XX, não tem final feliz. Mas, é um sentimento legítimo. De nojo. Eu partilho dele. Mas, prefiro as mudanças constitucionais. Talvez pela idade. Por isso mesmo prefiro eleições gerais, com a cassação do TSE, se houver.Creio que seria melhor para o País, mas não tenho certeza (Marina, por exemplo, governando com este Parlamento?),nem sei se ocorrerá, com Gilmar Mendes na cabeça do TSE.
Quanto ao editorial acho-o muito otimista. O impeachment já passou? Acho que não. O jogo será duro mesmo durante a votação. Há uma quase centena de deputados que podem mudar de lado a qualquer hora, ou simplesmente se ausentar, como fará a filha de Garotinho.
E, em seguida, teremos o senado. Fácil será aceitar o processo para julgar, mas não tao fácil aprovar o impeachment. Em um caso será necessário metade mais um e no outro, dois terços.
Tudo é ainda difícil e incerto, inclusive se, em Temer assumindo, nos tira da crise nos dois próximos anos. Também aqui o editorial é otimista.
Talvez a continuidade do desgoverno fosse bom. Aprofundar a crise para dela sair com mudanças reais de governabilidade, com reformas substantivas que há mais de três décadas falamos sem nada fazer, ou pouco tendo sido feito.
Mas, no mar de lama e intolerância que vivemos hoje, ser otimista hoje é o menor dos pecados. Parabéns ao editorialista.
Elimar
O editorial não diz que “em Temer assumindo, nos tira da crise nos dois próximos anos”. O editorial diz, ao contrário, que será muito difícil governar com uma oposição implacável e ressentida. Mas parece afirmar, com o que concordo, que é melhor a incerteza da mudança, com chances de uma inflexão o quadro político e na gestão da crise econômica (chance, não certeza) que a certeza do desastre que o Brasil vai mergulhar com a continuidade do desgoverno. Vc. acha que existe possibilidade de governabilidade e saída da crise com Dilma e o PT no poder? Apostar no agravamento da crise, data vênia, como dizem os ministro do STF, me parece muito arriscado. Até porque não acredito que o aprofundamento da crise geste sua própria solução. Os desdobramentos podem ser piores do que a crise. Prefiro apostar na incerteza.
Helga tem toda razão. As colocações de Cristian e Nealdo representam peças de retórica que revelam sonhos impossíveis. Mas ou menos como na parábola da assembleia dos ratos quando se sugeriu “Amarrar um guizo no pescoço do gato”. Quem vai passar a limpo? Desconfio que a colocação tem ranço de niilismo que é a pior (ou melhor) forma de destruição de um corpo social já degradado ou será uma lembrança do anarquismo imaginando uma sociedade sem comando? A grande utopia é imaginar que não há solução sem uma reforma político-administrativa radical, exigindo a participação vigilante de todos nós; cada um fazendo a sua parte sobretudo no respeito absoluto à LEI (e os pequenos delitos que no dia a dia todos praticamos sem pudor!); fala-se muito em venda de votos dos vulneráveis em troca de cesta básica, mas a grande maioria dos abastados vende os seus votos em troca de amizade, ou pedido de amigos, ou aleatoriamente por palpite na hora de votar (a maioria esquece até em quem votou). Ao que saiba, nenhum dos 513 deputados foi nomeado e sim eleitos por nós. E os 81 senadores que serão os verdadeiros julgadores do processo? Todos, sem exceção, eleitos por nós. Vamos nos queixar a quem: ao Papa Francisco ou à mãe do guarda da esquina? Vou fazer uma comparação grosseira: Ninguém consegue formar um colégio de freiras noviças dentro de um puteiro! e se não melhorarmos a sociedade, permaneceremos construindo nossas instituições com o material que temos aí disponível. Qualquer entidade que criarmos terão as mesmas mazelas de origem, até um clube de dominó! Vamos começar pelo exemplo que ainda é a melhor forma de ensino: Se cada um fizer a sua parte, já será de bom tamanho. Desculpem o desabafo
“Oposição implacável e ressentida”.
Onde mesmo ouvi falar disso antes?
Quando acuaram Getúlio no Catete?
Quando expulsaram Jango do Planalto?
Quando não acataram o resultado das eleições de 2014?
Será que estarei enganado?
E, como já disse o guru Francis Fukuyama, a História acabou?