Editorial

texto de imagem - Fracture 139 by Jane Muir.

Fracture 139 by Jane Muir.

O Brasil está rachado, fraturado e dividido em dois blocos irreconciliáveis, mesmo com as naturais nuances internas cada lado. Mas a divisão é desigual, no tamanho e na forma. De um lado, uma maioria significativa (quase dois terços dos brasileiros, a julgar pelas pesquisas) repudia o governo do PT e a presidente Dilma Rousseff, revoltada com o desmonte da economia e indignada com a onda de corrupção. Do outro lado, a minoria no governo se mobiliza para impedir o impeachment recorrendo ao discurso ideológico e aos mitos do “milagre” da distribuição do pão. Mas, enquanto a maioria forma uma massa dispersa, desorganizada e sem lideranças, a minoria é conduzida por um partido e liderada por um político carismático e tem irradiação em várias organizações da sociedade, da CUT ao movimento LGBT, identificadas e, principalmente, financiadas pelo governo. Normalmente, as minorias organizadas são hegemônicas, ganhando o apoio ou, no mínimo, a tolerância da maioria, o que vinha ocorrendo nos anos anteriores de domínio petista; não se pode esquecer que grande parte dos brasileiros que se mobiliza agora pelo impeachment da presidente votou nela nas eleições presidenciais de 2014. Diante dos dados e fatos e das evidências da fraude deste governo, a minoria organizada não tem mais condições de manter o domínio político e está isolada, conserva capacidade de mobilização mas não convence a maioria que, mesmo dispersa, desorganizada e sem liderança, converge e se articula, através dos diferentes meios, em torno de um objetivo central: afastar o PT do poder. Independentemente do resultado da votação da Câmara de Deputados, neste final de semana, o Brasil está fragmentado em grandes disputas e profundos ressentimentos que devem ameaçar o futuro. Como tudo indica que o impeachment vai ser aprovado, a minoria organizada vai para a oposição, seja qual for o governo que se constitua em substituição a Dilma. Esta minoria promete uma oposição radical, implacável e intolerante a julgar pelos discursos e mesmo ameaças de algumas das suas figuras de destaque como o representante do MST em discurso recente no Palácio do Planalto. Dias difíceis virão, mas, muito pior seria se o desgoverno continuasse.