Editorial

 

Seria grotesco se não fosse trágico: um grupo de mulheres decide fechar os portões dos quartéis da Polícia Militar e, simplesmente, desarma o Estado e a democracia brasileira. Os mais de dez mil homens treinados, armados e pagos pelo Estado, com os impostos gerados pela sociedade, amotinam-se nos quarteis, quebrando a disciplina e a hierarquia. E a sociedade fica totalmente vulnerável diante do crime organizado, muitíssimo bem armado, de grupos de extermínio e de saqueadores. Em 13 dias de greve disfarçada da polícia, o Estado do Espírito Santo registrou 147 homicídios, quase três vezes o registrado em todo o mesmo mês do ano passado, que foi superado em apenas dois dias (5 e 6 de fevereiro), antes da entrada em cena das Forças Armadas. Em Pernambuco, mesmo com um plano governamental para aumento dos salários, centenas de policiais reunidos no pátio da Assembleia Legislativa, onde se discutia e foi aprovado o referido plano, desafiavam as instituições com ameaças de paralisação durante o Carnaval. “Não vai ter Galo”, era o grito de guerra, animado por uma liderança em cima de um trio elétrico. Embora não fale em greve, o movimento propõe uma operação padrão, que poderá reduzir drasticamente os contingentes, em dias de enorme aglomeração e de riscos de violência. Os policiais de todos os Estados do Brasil, em diferentes graus, têm razões para o descontentamento com os baixos salários e as condições de trabalho, numa atividade profissional tão arriscada. Mas não é absolutamente aceitável a paralisação de um serviço de altíssima importância para a segurança pública, a ordem social e a vida dos cidadãos. Não é aceitável tampouco que milhares de homens treinados e armados amotinem-se nos quartéis e se recusem a cumprir sua missão, e mesmo as ordens da hierarquia da instituição. Desarmando o Estado, as greves da Polícia Militar são uma ameaça grave à democracia brasileira.