A prisão de Eike Batista não representa apenas um novo capítulo da operação Lava Jato no combate à corrupção no Brasil, expressando as relações íntimas e suspeitas entre governantes e empresários. O encarceramento do empresário que, até recentemente, era um dos homens mais ricos do mundo, é o epílogo da duvidosa política industrial orientada à formação de “campeões nacionais”, que foi implementada no final do segundo governo de Luis Inácio Lula da Silva e intensificada na gestão de Dilma Rousseff. A política consiste em promover a competitividade de algumas grandes empresas nacionais selecionadas, incluindo apoio a fusões e incorporações para viabilizar sua inserção global. Inspirada na bem sucedida política da Coréia do Sul que deu origem às grandes corporações coreanas globais, os “campeões” brasileiros recebem bilhões em crédito altamente subsidiado e de longo prazo do governo e contam ainda com participação acionária do BNDESPAR no empreendimento. O resultado desta política no Brasil tem sido um fiasco e a maioria das campeãs faliu, como as empresas X de Eike Batista, ou enfrenta graves problemas, como a Sete Brasil e a Oi, ambas com dívidas bilionárias e com pedido de recuperação judicial. O elevado subsídio dos financiamentos desta política contribuiu para agravar a crise fiscal brasileira. Além disso, se acumulam as suspeitas e as acusações de corrupção envolvendo precisamente algumas das grandes empresas beneficiárias desta política industrial. A formação de empresas brasileiras multinacionais é válida, mas a política dos “campeões nacionais” padece de um sério defeito de origem: a escolha dos tais campeões. Sendo uma escolha voluntarista e governamental, corre o risco de criar privilégios, estabelece relações de compadrio entre o governo e os escolhidos, arrisca levar a apostas equivocadas dos “campeões”, tende a reduzir a concorrência e, portanto, inibir a inovação. Finalmente, e não menos grave, cria um ambiente propício ao tráfico de influência e à corrupção. Como demonstra o “campeão” Eike Batista.
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Análise precisa. Os “campeões” são escolha tipicamente de mercado, depois de passarem pelo crivo da sobrevivência e crescimento em ambiente de concorrência aberta. A escolha por governos, ainda que tenha “lógica” e boas intenções, não pode substituir a escolha dos consumidores. Alguém já disse que nesse campo de apoio do governo para conquistar mercado, “quem merece, não precisa, e quem precisa, não merece.”
Acho bastante adequado o paralelo entre as tais campeãs empresariais e o advento dos “chaebol” coreanos, ainda hoje fonte de celeuma sem fim, dadas as relações conspícuas que mantiveram com o Estado.
Além das tais facilitações aludidas, o jogo se equilibrava quando havia uma troca farta de confetes de parte a parte, o que se traduz em propaganda descarada. A atuação de Eike com Cabral e o poder que detinham conjuntamente fizeram com que se perdesse qualquer senso de proporção.
No caso mais geral do Brasil, não sei se serve como atenuante ou agravante, há de se dizer que o professor Luciano Coutinho sempre foi um defensor da formação de “clusters” e de puxadores de fila em cada segmento.
Sem querer lhe atribuir quaisquer dolos, está claro que essa política gerou distorções muito mais enraizadas e setoriais do que as balas de festim de Eike.