Sérgio C. Buarque

Antonio Palocci e José Dirceu de Oliveira foram as principais lideranças políticas do PT-Partido dos Trabalhadores das últimas décadas. Sem eles, o PT não teria chegado ao poder e Luis Inácio Lula da Silva não teria governado o Brasil. Dirceu operou o jogo político-eleitoral, duro e sujo, e Palocci foi o competente gestor da política macroeconômica no primeiro governo Lula, quebrando a desconfiança dos agentes econômicos e viabilizando o crescimento da economia brasileira. Agora, os dois estão presos e condenados pela participação ativa no gigantesco esquema de corrupção do PT.

Enquanto Dirceu continua negando tudo, Palocci assumiu a responsabilidade pelos crimes e detalhou todos os desvios e ilícitos cometidos pelo seu partido, incluindo a direta participação do ex-presidente Lula que, como escreveu na sua carta ao partido, teria sucumbido ao pior da política e navegado “no terreno pantanoso do sucesso sem crítica, do ‘tudo pode’, do poder sem limites, onde a corrupção, os desvios, as disfunções que se acumulam são apenas detalhes, notas de rodapé no cenário entorpecido dos petrodólares que pagarão a tudo e a todos”. Para o PT, Dirceu, é um herói, e Palocci um traidor que, não suportando as “torturas”, entregou o partido.

O que diferencia Palocci de Dirceu não é, absolutamente, uma “firmeza ideológica” para resistir à prisão e às “torturas” da polícia federal. O que diferencia suas posturas é a interpretação do crime cometido. Dirceu se apresenta como se fosse um preso político, porque sua concepção da política lhe concede o direito à prática da corrupção legitimada pelos propósitos de poder do PT. Palloci, ao contrário, parece ter percebido (muito tarde, é verdade) a imoralidade que ele e seu partido cometeram, saqueando alguns bilhões dos cofres públicos. Por este crime comum, Palocci não tem motivação política ou ideológica para manter-se em silêncio e proteger o restante da quadrilha. Dirceu, ao contrário, faz-se de vítima de perseguição política, no que coincide com o partido e seus dirigentes, a começar pelo intocável ex-presidente Lula. Palocci abandonou o seu partido, é verdade, mas esse partido já não tinha um ideário a defender, era o partido do petrolão. Se Palocci traiu o PT, Dirceu e Lula traíram o Brasil (e enganaram seus eleitores e simpatizantes).