Editorial

A eleição de Miguel Díaz-Canel, como novo presidente de Cuba, não deve significar nenhuma mudança relevante na estrutura de poder, nem na orientação política, mas tem grande valor simbólico: representa a emergência de uma nova geração no país que tem sido dirigido, desde 1959, pela velha guarda da revolução. Pela carreira de Diaz-Canel no Partido Comunista e no Estado, e pelo processo de sucessão que o levou à presidência, o novo governo é uma continuidade politica. Neste sentido, deve continuar a implantação lenta e gradual da descontração econômica, ao mesmo tempo em que mantem-se o sistema autoritário de poder, baseado em partido único, imprensa estatal e repressão à oposição. Mas a ascensão ao poder de uma nova geração, na pessoa do jovem presidente,representao ocaso da mística revolucionária que mobilizou o país ao longo de quase seis décadas. Como Diaz-Canel, cerca de 85,7% dos cubanos nasceram depois da revolução de 1959, e mais de 62% têm menos de 40 anos de idade, formando uma geração influenciada pela comunicação global, com seus valores contraditórios de consumismo e direitos civis, ambos carentes no pequeno país do Caribe. A juventude do novo presidente parece refletida em algumas atitudes liberais que teria tomado ao longo da sua carreira, embora seja defensor do pulso duro contra a oposição. Tudo indica que Diaz-Canel substituirá a mística pela racionalidade tecnocrática da “nomenclatura”, com a difícil missão de destravar a economia centralizada e estatal, sem abrir frestas no sistema autoritário de poder. O desafio é enorme, considerando a estagnação da economia, a dependência do petróleo da Venezuela e, principalmente, a intolerância e a obtusa posição de Donald Trump, o mentecapto presidente dos Estados Unidos, com a manutenção do embargo e a suspensão dos entendimentos iniciados por Barak Obama, para distensão da relação entre os dois países.