Maurício Costa Romão

Nos bastidores eleitorais a rejeição por alguns partidos à filiação de pré-candidatos eleitoralmente fortes ao Parlamento é fato tão corriqueiro que nem chega merecer atenção no dia-a-dia do meio político.

Vez por outra, entretanto, o assunto vem à baila, é explorado pela mídia, e causa estranheza nos eleitores. Foi o que aconteceu quando o deputado estadual Guilherme Uchoa abandonou o PDT porque a sigla vetou a entrada em suas fileiras do empresário Guilherme Uchoa Jr., seu filho, sob o argumento de este teria mais de 50 mil votos para deputado federal.

“Eu nunca vi isso em meus anos de mandato. Um candidato que tem voto ser barrado. Geralmente é ao contrário, quem não tem voto não entra”, disse, como que surpreso, o deputado (JC, 17/03/2018). Quem é do ramo percebe logo que esta declaração do experiente parlamentar é meramente retórica, endereçada ao meio não político. No burburinho da coxia, entretanto, todo mundo sabe que o fenômeno é trivial, incorporado à paisagem.

“Quer ser deputado? Com a gente, você tem mais chance!” Era esse oheadlineque encabeçava as peças publicitárias, entre elas vários outdoors, veiculadas por um partido alguns meses antes das eleições de 2010, em Pernambuco.

Em entrevista a jornal da capital (em matéria com sugestivo título: “Liquidação de candidatura a deputado”) o presidente da tal agremiação não tergiversou e foi no âmago da questão: disse que só seriam filiados à legenda candidatos a deputado estadual com expectativa de “15 a 20 mil votos e sem mandato” e decretou: “acima de 20 mil votos não entram. Montamos uma chapa para se eleger com menos votos”.

Num arroubo de sinceridade (DP, 02/03/2018), o deputado Eduardo da Fonte, dizendo que estava montando uma chapinha para eleger 12 deputados estaduais, foi peremptório: ”Ainda tem muito parlamentar querendo entrar, mas já decidi que ninguém mais com mandato vai integrar o grupo para não prejudicar a cauda”.

O eleitor, naturalmente, estranha que nessas filiações não haja uma menção sequer à diretriz partidária, seu ideário, sua estrutura programática, nada! Mas ele se queda perplexo mesmo é com a barreira imposta pelos partidos à entrada de pré-candidatos com muitos votos. Ora, perguntam-se, “mas não são exatamente esses os que têm mais chances de se eleger?”.

É que no sistema eleitoral brasileiro os ocupantes das vagas parlamentares são os candidatos que obtém mais votos no seio do partido ou da coligação, independentemente da votação conseguida por candidatos de outras siglas. O adversário é o companheiro de chapa!

Neste contexto, então, pré-candidatos eleitoralmente fortes enfrentam resistências para ingressar nos partidos. A chegada deles ameaça o conjunto, particularmente aqueles candidatos com chances de se elegerem. Daí o instinto de autopreservação das cúpulas partidárias.

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