Ozael Medeiros
Consultor na Gestão Organizacional

Cada dia estamos mais integrados a formas inovadoras de mercado. Quem ainda não fez compras ou operou sua conta bancária pela internet? Quem ainda não se comunica pelas redes sociais? Para além destes usos individuais e de grupos sociais, o mundo dos negócios vem sendo claramente afetado pela ampliação da comunicação digital. A velocidade desse processo está acontecendo em tal intensidade que já se fala em “Trem Bala” que tudo muda. Nos dias atuais, esse “trem bala” impõe decisões importantes com relação ao futuro do negócio; uma mudança que já está acontecendo nesse exato momento e poderá determinar a sobrevivência e o crescimento da empresa. Quem não se dispuser a isso, poderá estar sujeito a perdas de posições de mercado, com crescentes dificuldades de manutenção do próprio negócio.

De fato, a Tecnologia da Informação, até pouco tempo, funcionava orbitando o mundo empresarial, apoiando as atividades rotineiras, registrando dados para pequenos ajustes de modernizações pontuais ao longo dos anos. Este processo agora está sendo visto como o centro de toda a organização. Deixou de estar à margem da empresa, para estar no centro de tudo. A Tecnologia da Informação passa a atuar em unidades digitais articuladas em rede, internamente e externamente, com outras empresas associadas ao próprio negócio, trabalhando com funções que compõem projetos definidos a partir dessa mesma rede de informações.

Essa lógica de transformação digital, por si só, já é uma disrupção,um movimento de mudança acelerado que muitos seguem como algo já natural ao esforço de sobrevivência e de crescimento do negócio, num mundo cada dia mais competitivo. Já no final do século passado, houve o “boom” dos computadores pessoais, as ferramentas de pesquisa na internet e a tecnologia da informação começou ajustar os modelos operacionais das empresas. Com isso foi possível reduzir custos, aumentar produtividade e superar gargalos dos processos produtivos e de gestão.

Na primeira década deste século, com a Web 2.0, os smartphones e o surgimento das mídias sociais, como o Orkut e o MSN, as marcas que já vinham sendo digitalizadas começaram a ter maior alcance, o marketing digital apareceu com força, sendo possível levar essas marcas a públicos mais estratificados, com a criação de conteúdos para internet, gerando oportunidades de mercado, compras via mídia e distribuição online. Foi aí que houve o incremento de vendas de passagens aéreas com redução de custos. A TV digital surge com oferta de conteúdos dispostos sob demanda. A geração de dados, informação e conhecimento é algo que acontece de forma exponencial a cada minuto. Cada indivíduo recebe convites e propostas direcionadas; não é à toa que escutamos: “Alguém na internet me conhece mais do que eu mesmo… Não sei quem é, mas ele está lá”.

É a mais pura verdade. Abre-se o Google, acessa-se o Facebook ou o Instagram, eles não só mostram aquilo que nós gostaríamos de ver, corrigem a nossa escrita, como se soubessem o que, na verdade, nós gostaríamos de dizer; já nos mostram um link de algo que nos interessa naquele momento, um produto de uma empresa, disponibilizada por uma outra, entregue por outra. Detalhe, todas parceiras entre si. Isso tudo por um preço que vale a pena comprar e em condições que nos permitem pagar, recebendo através do cartão de crédito, débito, paypal, boleto.

Foi na segunda década deste século que se consolidou essa nova etapa de disrupção, com a tecnologia em nuvem (cloud). Investir em equipamento próprio e em guarda de informações dentro da própria casa, passa a ser desnecessário. Por que vou comprar se eu posso contratar? Por que investir comprando equipamentos e sistemas depreciáveis se posso terceirizar a custos baixos com a constante atualização ou incrementar serviços que seriam muito mais caros se verticalizados em nossa própria empresa?  Tudo isso adaptável ao nosso tamanho.

A transformação digital ocorre quando os negócios sofrem aplicação massiva de inovação tecnológica com a intenção de oferecer experiências revolucionárias aos seus clientes, aos potenciais clientes e àqueles que nem saberiam que poderiam ser clientes. Disso depende mudanças de atitude, mentalidade e ajustes da operação. Inteligência Artificial, IoT (Internet das Coisas), mobilidade (celulares, tablets, etc), são alguns exemplos de tecnologias aplicadas em um processo de transformação digital.

O advento da inteligência artificial, por mais ficção científica que possa parecer, hoje está acessível e aplicável ao mercado empresarial de qualquer porte. Permite que possamos automatizar a relação com o mercado ou com a melhoria dos processos produtivos e de gestão a partir do aprendizado das próprias máquinas e sistemas na realização das atividades rotineiras e diárias da empresa. Isso nos faz ser mais eficientes e mais rápidos nas respostas que o mercado exige de nós.

Diariamente surgem mais interações que facilitam a vida das pessoas com iniciativas tomadas de forma proativa pelas empresas. Reconhecimento de digitais, voz, facial ou ocular, tudo que traz facilidades de identificação permitindo acesso ou gerando oportunidades e novas facilidades para usuários de equipamentos como celulares, tablets, computadores, totens de autoatendimento, entre outros.

Nos dias de hoje, 67% da jornada do comprador é feita digitalmente. É nesse sentido que a construção das estratégias das empresas deve estar voltada. O foco da empresa não é mais apenas com base na satisfação do cliente, mas na experiência do usuário, cliente, consumidor. Analisar sua satisfação com o produto é importante, mas monitorar todos os momentos em que ele se relaciona com o produto e com a empresa é ainda mais importante. Independentemente de qual mercado estejamos falando, empresa de serviços, indústria, logística.

De fato, todos os negócios do mercado já são impactados com novas oportunidades numa perspectiva de disrupçãodigital: telecomunicações, sistema bancário, produção industrial, comércio atacadista e varejo. Tudo, inclusive as organizações de prestação de serviço nas áreas de saúde, educação, alimentação, entre tantas outras. O Fórum Econômico Mundial define tudo isso como a 4ª Revolução Industrial. A Consultoria IDC avalia que entre 2018 e 2020 serão investidos um total de U$ 6,3 trilhões em Transformação Digital.

Bem, considerando isso tudo, qual o processo de transformação digital a seguir? Qualquer processo de TD parte de uma análise profunda do negócio da empresa, identificar onde o negócio pode sofrer ruptura pela evolução da experiência do consumidor, do produto ou a evolução do mercado concorrente. Quem hoje não é concorrente pode ser no futuro ou passar a ser um influenciador do processo de transformação. Há pouco tempo o Uber, Uber Eats, Rappi, Glovo não existiam, hoje fazem parte dos processos logísticos de empresas de pequeno, médio e grande porte. Isso é outra questão importante em Transformação Digital: as relações empresariais. Quaisquer negócios têm potencial para serem parceiros, basta encarar de forma estratégica. Nessa condição, temos que começar a pensar que aquela empresa que hoje não tem relação direta com meu negócio ou até que pode ser um problema para minha participação de mercado, pode ser uma grande aquisição ou um grande parceiro, afinal, reduzirá meu custo ou até abrirá uma oportunidade para um mercado onde eu não atuava até ontem.

Peter Diamandis, em seu livro Bold: Oportunidades Exponenciais(2018) argumenta que a disrupçãoé o motor da nova economia. Alerta para os riscos da clássica história da Kodak que, ao criar a câmera digital em 1975, decidiu abafar o protótipo, para proteger seu faturamento em fotografias analógicas, abrindo falência em 2012. Hoje, o Instagram é a maior plataforma de armazenamento e divulgação de fotografias do mundo.

Finalmente, seria importante considerar que, ante a crise que assola uma parte significativa das economias do mundo, apenas as empresas que se adequam às modernas condições de produção, de acesso aos mercados e de gestão articulada, têm chances de superar problemas e se salvar do atropelamento desse “Trem Bala”. A disrupção é, simplesmente, uma condição de sobrevivência.