Luiz Otavio Cavalcanti

O governo Bolsonaro emagrece. Ao invés de autogolpe, faz uma autodieta. Perdeu alguns dos principais valores: Sérgio Moro, Luis Mandetta e Santos Cruz. Está mais pobre.

Além de gerencial, sua pobreza é também política: não tem diretriz para a educação. Não há seguimento na reforma do ensino básico promovida no governo Temer. A área de conhecimento mais importante para o futuro da juventude brasileira está entregue a ensandecido ativista.  Como não há política para a saúde. Por incrível que seja, o país, enfrentando a maior pandemia do planeta, não conta, no ministério da Saúde, com um médico.

À medida em que o tempo passar, vai ficando claro, para a opinião pública, o desconcerto do governo. Perderá gradualmente apoio da população.

Mas, hoje, quero falar sobre o Exército. Para compartilhar com vocês minha visão sobre o tema.

A premissa mais importante ao avaliar o quadro brasileiro, na perspectiva dos militares, é a seguinte: os militares não são uma instituição monolítica. Mas são corporação bem amadurecida. Que confere valor ao comando e à disciplina. O superior propósito de manter sua unidade institucional, os impede de tomar iniciativa golpista. Por receio de dividir sua organização.

Ou seja: eles só tomariam iniciativa golpista, se houvesse íntegra unidade de pensamento a respeito da decisão a tomar. Para preservar sua coesão.

Segundo ponto: o controle civil, no contexto político, ocorre por causa da tolerância dos civis para o desenvolvimento da influência militar na própria esfera militar. Ou seja, a profissionalização dos militares restringe sua energia à esfera militar, não política. A essência do controle civil está no reconhecimento do profissionalismo militar.

Os militares obedecem ao governo porque entendem que é sua obrigação obedecer. E porque há uma série de normas legais fixando os papeis da instituição e de seus membros na sociedade. Este é o padrão moderador na relação entre civis e militares no Brasil.

Terceiro ponto: os ativistas militares constituem sempre uma minoria. Se uma minoria quer dar um golpe, precisa convencer a maioria da corporação de sua chance. Em nome da coesão da instituição. Eles sabem que sua força está na unidade. Movimentos militares visando concretizar um golpe precisam da opinião pública para convencer a maioria dos militares. Foi assim em 1945, 1954 e 1964.

Quando os militares agiram contra a opinião pública, tiveram que retroceder: foi assim em 1961. As revoltas puramente militares, de 1922 e de 1924, fracassaram. Os movimentos vitoriosos tiveram respaldo majoritário e presença civil: 1930, 1945, 1954 e 1964.

A unidade militar é o valor mais alto para os militares. Só haverá guerra civil se os militares estiverem divididos. Palavra de um experiente general, vencedor: “O principal é permanecermos unidos”.

Segundo Alfred Stepan (Os Militares na Política, 1971), a avaliação que chefes militares fizeram, do período entre 1964 e 1968, é que eles aumentaram envolvimento no processo político e diminuíram sua base de apoio social. Daí o entendimento de que a orientação a seguir é o profissionalismo.

Os militares compreenderam que não há solução apolítica para os problemas políticos.

É preciso dialogar com os militares. Como o ministro do Supremo, Gilmar Mendes, fez.  Indo visitar o comandante do Exército, general Edson Pujol. Sem preconceito. Diálogo político no sentido verde e amarelo. De defesa da democracia. De amor ao Brasil