O presidente da República assustou-se. Consigo mesmo. Quando viu sua popularidade pular acima dos 30%. Qual Narciso repentinamente embevecido, saído de impopular feiura.

O governante pensou ter descoberto uma mina eleitoral. Mas, distribuir óbolo oficial aos pobres na escassez de recursos fiscais é problema. E a mágica populista empacou.

Não há recursos orçamentários para financiar a reeleição ? A questão é outra. O que falta é capacidade de formular. Falta ciência. Teoria social. Uma coisa, rasa, descompromissada, é o voluntarismo pré eleitoral. Outra coisa, pensada, é articulação científica de laços sociais. Voltada a objetivos perenes do bem público.

No Brasil, a primeira geração de política social, nos anos 80, foi imperativa. A partir da intervenção do Estado. Com sentido compensatório. A segunda geração de política social, nos anos 90, após a Constituição de 88, foi condicionada e descentralizada. Começando pela Bolsa Escola, de Fernando Henrique Cardoso. E continuada pela Bolsa Família, de Lula.

A terceira geração de política social, amadurecida na sensibilidade de Ruth Cardoso, foi interrompida por seu desaparecimento prematuro. Caracterizava-se por três pontos: primeiro, era política pública e não somente de Estado; segundo, sinalizava parcerias entre empresas privadas, organizações sociais e o Estado; terceiro, ancorava as ações de emparceiramento público-privado em potencialidades comunitárias, projetos de comunidades, inspirados em vocações locais.

Ou seja, articulava horizontalmente a cooperação de agentes privados, comunidades e órgãos públicos. Numa atuação solidária, cidadã, consciente. E apoiava verticalmente iniciativas vindas baixo para cima, oriundas de associações comunitárias. Expressando vocações e demonstrando interesses de grupos voltados para música, artesanato, culinária, comércio, serviços, informática, esportes.

Não se tratava de ações soltas. Motivadas por passageiros da agonia eleitoral. Sem fundamento técnico, ético. Tratava-se de mobilizar e viabilizar capacidades permanentes de fazer por parte de comunidades.

A diferença entre o surto eleitoral e a visão social estratégica não é só a natureza científica, conceitual. Ausente num e presente na outra. Mas é que, faltando os elementos teóricos e os fundamentos reais de um projeto sério, articulado, falta dinheiro.

Uma política social verdadeira, e não apenas uma política clientelista, envolve parceiros comprometidos com a sociedade. Não é uma ação estatal, meramente redistributiva. Mas é uma conjugação de esforços abrangendo empresas, organizações, setor público e comunidades. Comunidades que são origem e destino de ação coordenada.

Política social digna do nome aponta para duas vertentes: primeira, investimento em capital humano, em conhecimento, capacitação técnica, qualificação, especialização setorial. Ajustando demanda pesquisada e oferta de mão de obra. Segunda vertente, investimento em capital social, em projetos descentralizados, de municípios com vocações definidas, de comunidades com potencialidades identificadas.

É penoso ver o retrocesso do país em política social. O que nos salva é o senso patriótico da sociedade civil. Que ajuda a apagar as labaredas em fogo e omissão que destroem o verde da Amazônia. Sociedade civil que condena manobras de agentes públicos encobrindo política covarde de desmobilização de fiscais. Exemplos construtivos vão frutificar. Porque as pessoas vão enxergar. Logo que passe a fumaça criminosa de queimadas antibrasileiras.