Metáfora visual de um núcleo ideológico da extrema direita (autor desconhecido).

 

Não ligo mais. São tantas as sandices que é melhor ignorar. No entanto, continuo lendo e vendo as mídias, as reações são várias, o que me leva a atentar para esta declaração e me posicionar.

Ontem, dia 5 de janeiro, o Presidente da República declara:

“O Brasil está quebrado. Eu não consigo fazer nada.”

Economistas de cunho liberal correm para afirmar que a declaração está tecnicamente incorreta. Falam de reservas cambiais, de prazos de rolagem da dívida, de possibilidades de negociação.  Evidentemente, insistem na necessidade de privatizações e de reformas estruturais. Procuram alicerçar seus doentios desejos de arroxo fiscal e de corte de gastos públicos numa declaração “impensada” do máximo mandatário. Explicações formais. Nem comentam que a declaração tinha uma segunda parte, perigosa para um governante, que se considera impotente para resolver os problemas reais da economia que se propôs a dirigir.

Este debate é pouco produtivo. Acho que o foco é equivocado. O importante da declaração é a segunda parte. Repito o dito: “eu não consigo fazer nada”.  Este é o centro da afirmação. Onde devemos focar nossas atenções.

Um presidente que acreditava ter poderes para tudo fazer, de estar acima da Constituição, de poder ignorar as Instituições. Foi isso que quis dizer. Não contava com a existência de um aparato legal baseado em Três Poderes, teoricamente independentes.

Um presidente que chegou com uma pauta de costumes reacionária, com um modelo econômico concentrador e excludente, que tem sua base de apoio numa concepção social homofóbica e virulenta da sociedade, que gostaria de armar todo o país, de nos fazer voltar ao “Velho Oeste”, onde a bala resolve querelas. Sua base de sustentação começa a exigir resultados concretos que, felizmente, têm sido barrados pelo Poder Judiciário, e não têm sido pautados pelo Legislativo.

Um presidente que coloca os interesses familiares acima dos da nação, que quer manipular instituições de Estado como a Receita e a Polícia Federal. Que acredita que as benesses devem ser para os afiliados e amigos, que se nega a enfrentar os reais problemas de desigualdade e pobreza.

Um presidente negacionista que despreza a ciência, que coloca em risco a população de seu país em uma crise sanitária seriíssima. Que não prioriza as vidas humanas, em um período em que a situação fica cada vez mais crítica, desde que seus interesses eleitorais sejam mantidos.

Sua frustração é existirem organismos que lhe dão limites, é haver um regime em que, dentro de certos parâmetros, barram-se suas iniciativas e loucuras,  e  uma Constituição minimamente balizadora. Não esperava por isso.

Ainda bem que temos este ambiente de um mínimo de controle e regulação.

Leio um artigo, sobre o tema aqui abordado, que acaba com a seguinte frase:

“O Brasil está quebrado e não é nem essencialmente nas contas públicas. É na alma, na dignidade, no amor ao País, despedaçados por todos eles -políticos, militares, financistas e mídia – que puseram esta Pátria na mão de um psicopata.”

Esse é o âmago da declaração feita.  Pode ser que na cabeça do senhor presidente estivesse querendo dizer, não consigo fazer nada, mas ainda vou tentar. Tenho medo disso.

Procura aliciar o Legislativo, com um Dirigente que cumpra suas ordens e se oriente por sua Pauta. Articula-se com uma base parlamentar, Centrão, que por interesses individuais aceita fazer parte de seu jogo político. Procura mudar o Judiciário, com um novo Ministro vindo em junho. Já vimos como o primeiro nomeado estrutura seus votos. Cooptar as Instituições parece ser o caminho a ser seguido.

Aguentamos dois anos, teremos forças para mais dois?