Deputado federal por sete mandatos, Jair Bolsonaro não foi propriamente um defensor da moralidade pública, nem um crítico da chamada velha política. Pode não ter participado das negociatas e do jogo da corrupção e fisiologismo do Congresso porque era um medíocre parlamentar do baixo clero dedicado a bandeiras marginais, como redução da maioridade penal, posse de arma de fogo e medidas para garantir a segurança jurídica das ações policiais.

Na campanha eleitoral para presidente, sua intuição política acrescentou ao seu arsenal conservador e autoritário o discurso de ataque à corrupção e à velha política, tudo que poderia dar voto naquele momento de desgaste dos últimos governos.

Bolsonaro era tão apagado no Congresso que não teve dificuldades para convencer o eleitorado que não era político, jogando todos os políticos na vala comum da corrupção e do clientelismo. Não demorou muito para o presidente Jair Bolsonaro se compor com os políticos e juristas que querem acabar com a Lava Jato, até para proteger seus filhos. E se aproximar do Centrão, a síntese da velha política brasileira, que se move exclusivamente por poder, cargos, recursos públicos, benesses e favores.

O movimento de aproximação de Bolsonaro com o Centrão, que começou no ano passado, convergiu para uma aliança consolidada agora com a eleição de dois dos seus líderes na presidência das duas casas do Congresso. O presidente recorreu à velha política para impulsionar a vitória de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco com a liberação de três bilhões de reais das emendas parlamentares para compra de votos, além de promessas de cargos futuros.

Uma reforma ministerial deverá cumprir esta promessa, com a distribuição de cargos nos diversos escalões do poder, incluindo a possível criação de novos ministérios para acomodação da gula fisiológica. Tudo que Bolsonaro condenou antes. Ele agora se fortalece politicamente com esta aliança. Mas não é possível que ele, Bolsonaro, continue tendo o apoio dos milhões de brasileiros que acreditaram na promessa eleitoreira de enfrentar a corrupção e acabar com a velha política no Brasil.