O governador Paulo Câmara jamais mandaria a polícia atirar balas de borracha numa manifestação política, nem jogar gás de pimenta no rosto de uma vereadora, mesmo que a mobilização fosse contra ele, o que não era o caso da passeata do último sábado. Além da própria violência e das vítimas das balas de borracha, o evento é mais uma demonstração do sintoma assustador de indisciplina e descontrole ideológico nas tropas simpatizantes de Bolsonaro.

A ordem de reprimir a manifestação com o uso da força bruta deve ter partido do comando imediato da tropa (contando eventualmente com a adesão de alguns dos seus soldados), expressando sua intolerância com as críticas ao presidente e o descontrole emocional diante das críticas a Bolsonaro. Além de inaceitável, a repressão violenta da manifestação jogou o governador Paulo Câmara numa posição constrangedora, testando a sua capacidade de contenção dos sinais de indisciplina da tropa.

Infelizmente, este lamentável incidente no Recife está longe de ser um caso isolado. No mesmo sábado, um policial militar em Goiânia prendeu um professor que se recusou a retirar do seu carro uma bandeira chamando Bolsonaro de genocida. Não se trata de um simples abuso de autoridade. Representa uma repressão tendenciosa de um policial à livre manifestação da opinião de um cidadão, pelo fato de ele criticar Bolsonaro.

Para completar a legitimação das iniciativas autoritárias e da indisciplina bolsonarista, o Comandante do Exército, General Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, decidiu arquivar o processo disciplinar contra o general Eduardo Pazuello, que violou o regulamento do Exército com seu discurso num palanque de Bolsonaro, lembrando que o presidente já tinha afrontado as Forças Armadas com a nomeação de Pazuello para um alto cargo no governo. Estas manifestações de repressão aos opositores do Governo, e leniência com a indisciplina militar, pode estimular a politização das Polícias Militares, o que favorece Bolsonaro e compromete a autoridade dos governadores. Está na hora da distribuição de vários cartões amarelos, como fazem os juízes de futebol numa partida tensa e com sinais claros de indisciplina e violência. Do contrário, vai-se perder o controle da situação e do espetáculo das eleições presidenciais, o que só interessa aos que apostam no caos.