As Forças Armadas são a instituição mais respeitada pelos brasileiros, confiança que decorre da sua condição de instituição de Estado, e que é diretamente proporcional ao seu distanciamento dos interesses e do jogo político. Todo o contrário do que deseja o presidente da República, empenhado, desde a posse, na contaminação política dos quarteis e no rebaixamento das Forças Armadas à condição medíocre de extensão do seu governo. Não apenas ocupou os cargos públicos com milhares de militares da reserva, como nomeou e manteve o general da ativa Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde e, depois de demitido, numa secretaria ligada diretamente ao gabinete presidencial. A convivência de militares de diferentes patentes com gerentes indicados pelo “Centrão”, especialmente no Ministério da Saúde, está envolvendo oficiais em denúncias e suspeitas de corrupção, que embaraçam a imagem positiva das instituições militares (pesquisa recente do IPESP/XP (junho de 2021) mostra o declínio desta confiança nas Forças Armadas nos últimos 29 meses do governo Bolsonaro). Segundo Vera Rosa, repórter especial do Estado de São Paulo, a CPI da Covid evidenciou uma disputa de poder no Ministério da Saúde entre o Centrão e os “militares que orbitam em torno do presidente Jair Bolsonaro, muitos deles agindo no submundo das informações reservadas”.

Não foram poucas as vezes em que políticos e intelectuais advertiram para o risco desta politização das Forças Armadas, que, além de comprometer a confiança dos brasileiros na instituição, pode levar à quebra da hierarquia e da disciplina. Esta parece ser mesmo a intenção do capitão-presidente, que aposta na atração das Forças Armadas para suas aventuras golpistas. Numa reação dura à referência do presidente da CPI, Omar Aziz, sobre uma “banda podre” no grupo militar, os comandantes das Forças Armadas afirmaram, em nota oficial, que “não aceitam qualquer ataque leviano às instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro”. Este protesto deveria, contudo, ser acompanhado de medidas para impedir a permeabilidade das Forças Armadas às tentativas de politização do estamento militar. Os democratas brasileiros confiam e respeitam as Forças Armadas, e acreditam na sua postura de respeito à Constituição e garantia dos valores e princípios democráticos. Para o bem do Brasil, a consolidação da democracia e a preservação da imagem positiva das Forças Armadas é fundamental que a instituição se afaste do jogo político,  retire-se dos órgãos do governo e reafirme sua condição de instituição de Estado.