“krestny khod kursk gubernia” by Ilya Yefimovich Repin – óleo sobre tela – 175 x 280 cm.

 

Em tempos de Gilberto Gil imortal eleito pela Academia Brasileira de Letras, algo que ele já seria devido à grande contribuição que deu à música e à cultura do país, uso o título de sua música para nomear este artigo, que parece trazer esperança aos incrédulos. 

O termo religião, que vem do latim religare, ou religar, reconectar, significa reconectar o homem a Deus, e Deus ao homem. Muitas das religiões tradicionais e antigas baseiam sua crença através de uma “fé cega”. A fé cega é aquela que nos faz crer em algo, em coisas que se esperam, independentemente do que vemos ou ouvimos. A fé que traz a ideia de confiança. Outras religiões trazem a ideia da “fé raciocinada”, em que o espírito, apesar de sentir as emoções de crer em Deus, possui seu livre-arbítrio, em que através de seu estudo passa a ter a certeza da existência Dele. Porém, iniciam seus estudos questionando. 

Assim como as religiões, as questões políticas parece que se apresentam da mesma forma. Talvez como nas religiões, os povos precisem de um líder, de um salvador, de um messias, de um profeta. Os povos parece que idealizam um ser puro e mítico. Aquele capaz de levar os povos ao caminho da salvação. E que por mais que vejam e que ouçam, a fé lançada sobre esse ser é inabalável e cega. Um pulo no escuro com a imaginação, que através dele os povos encontrarão a luz. 

Atualmente no país assistimos a duas correntes de fortes crenças que se acusam mutuamente. Verdadeiros rebanhos seguindo seus pastores, que com seus cajados e cães conduzem as reses para o curral, para o pasto ou para o abatedouro. Acusam-se do que eles mesmos fazem. As ações, com diferença na forma, possuem o mesmo conteúdo. O espírito belicoso, os favores comprados, os ataques às liberdades (individuais e de imprensa), a intolerância, a incapacidade de diálogo, contaminando e dividindo um povo que se embate em uma cruzada tupiniquim. 

Na hora em que se questiona o porquê, em que se busca o estudo e a razão, em que se acredita pensando, foge-se dessa cobertura insana e cansativa, desse visco que cobre nossas mentes e se passa a crer que é possível alcançar a salvação fazendo uma outra escolha.  A escolha da paz, do governo para todos, e que grande parte da população ainda precisa ser convencida disso, tanto foi o tempo que passou crendo em falsos deuses, em ídolos em forma de bezerros. Vê, ouve, e a fé que cega faz o povo pular dentro de um abismo. Sem fim. 

No Grande Livro se diz que devemos ter cuidado com os falsos profetas. E são tantos que nos cercam, que talvez aqueles que hoje acreditamos que nos tirarão dessa situação também se apresentem como tal. Mas o que não podemos de deixar nunca é de pensar e de acreditar, raciocinando. 

Os falsos profetas diferem dos verdadeiros preceitos das religiões. Essas, na sua origem, não pregam a guerra, a intolerância, o preconceito. Prestar atenção nesses detalhes é fundamental para a tomada de decisão. As verdadeiras religiões estão apoiadas na filosofia do amor, do fazer o bem, da conexão com Deus, com esse ser que não vemos, mas crendo de forma cega ou não tentamos, com esperança, alcançar uma vida melhor. Vamos entrar em mais um processo decisivo de nosso futuro como nação. E vamos com fé, afinal de contas “a fé não costuma faiá”.