A eleição presidencial polarizada entre o bolsonarismo e o lulopetismo traz grave risco de crise institucional.
Embora os já engajados nas candidaturas de Bolsonaro e Lula queiram jogar para debaixo do tapete suas graves inconsistências, não é sábio que os democratas as desconsiderem.
O que me move, com este texto, não é de forma alguma importunar os que pensem já estar decididos. Mas esse diálogo é necessário, pois o que está em jogo é o futuro de nossa democracia; ou seja, o interesse de todos os brasileiros de construir um país mais próspero, justo e respeitador das liberdades e dos direitos humanos.
Ambos, Lula e Bolsonaro, revelam-se personagens de um Brasil que precisa ficar para trás, e mostram que estão aprisionadas às propostas reacionárias que praticaram em seus governos. Suas atuações no exercício de seus mandatos são a maior demonstração de que não passaram nas provas que os façam merecedores de ser reeleitos, pois a prática é o critério da verdade.
Lula, enquanto presidente, promoveu a maior roubalheira organizada realizada por um chefe de Executivo. Praticou o que podemos chamar de corrupção estratégica, planejada para financiar a conquista e a manutenção do poder político por longo prazo; foi um projeto partidário; por isso, foi condenado e preso, bem como algumas das maiores lideranças do PT. Para voltar a disputar o poder, induziu o STF a grave erro judiciário para retirá-lo da cadeia e anular suas condenações, o que levou a Suprema Corte a uma perigosa perda de credibilidade perante milhões de brasileiros. Levá-lo de volta ao exercício do poder significará cegueira inadmissível, e consistirá em imensa irresponsabilidade histórica.
Bolsonaro, eleito com a bandeira de trazer moralidade à política brasileira, e para impedir a volta do PT ao governo, atuou, em traição ao seu eleitor, decisivamente, para acabar com a Lava-Jato, e tudo fez para blindar os corruptos do seu governo e os malfeitos do seu clã familiar. Mas isso apenas o tornou visível para todos os atributos que já revelara antes: para os seus camaradas do Exército, quando, ainda como tenente, tiveram que expulsá-lo dos quadros da Força por planejar explodir bombas em quartéis; para os seus pares deputados federais, um parlamentar ausente e irresponsável, defensor de torturadores e de milicianos, que aprendeu e ensinou aos seus filhos a prática das rachadinhas. A mesma irresponsabilidade revela como presidente. Agora deseja governar como ditador, apoiando propostas antidemocráticas de fechar o STF e o Congresso Nacional; temeroso de não ser reeleito, coloca em dúvida a idoneidade das urnas eletrônicas, e ameaça virar a mesa, chamando os seus radicais armados, caso seja derrotado; por fim, desrespeita as Forças Armadas, deixando em dúvida o seu compromisso com a lei, a ordem e a Constituição. Por isso, e por um rosário imenso de outras irresponsabilidades, demonstra incompatibilidade com o cargo; e levá-lo de volta ao exercício do poder trará um grave risco à continuidade do Estado Democrático de Direito.
Não é demais dizer: esta polarização é a maior demonstração de que nossas instituições democráticas estão em grave risco. Precisamos falar com toda a clareza: existe uma bomba institucional prestes a explodir, pois estes dois personagens, os piores candidatos, são exatamente, os que estão à frente nas pesquisas. Cabe aos democratas agirem, em tempo, para que não se dê a tragédia.
Mas precisamos, para aprofundar essa questão, mostrar alguns fatos:
1. O controle dos bilionários Fundos, Partidário e Eleitoral, passou a ser o grande objetivo dos partidos;
2. Somente têm acesso a eles os partidos que passem nas cláusulas de barreira;
3. A discussão das questões programáticas e a solução dos problemas mais candentes da população passaram a ser menos importantes do que as articulações eleitorais;
4. A eleição presidencial foi federalizada. As alianças nos Estados passaram a ser mais importantes do que a presidencial. Por isso, em quase todos os partidos, as alianças estaduais não guardam coerência com a aliança da eleição presidencial. P.ex., em um Estado um dado partido pode estar com Lula e em outro com Bolsonaro. Está instaurada e oficializada a traição.
5. E os principais partidos, como se tudo estivesse normal e já perfeitamente resolvido, prosseguem, descontraídos, as suas composições nos Estados. Não está normal, e não está resolvido!
Por que, então, mais uma vez, trazer essas questões? Porque julgo que o valor maior da democracia e os interesses maiores dos brasileiros precisam ser trazidos ao primeiro plano.
Articula-se, ainda, uma candidatura da chamada 3ª Via. São muito importantes as iniciativas de unidade que estão sendo tomadas pelo MDB, o PSDB e o Cidadania. E devemos olhar com atenção para a respeitável candidatura do PDT, e de quem mais tenha compromisso sério com o Brasil. É imprescindível que adotemos um candidato em contraposição aos da polarização!
Saberemos, com grandeza, mudar os rumos dessa eleição?
Claro que é válido defender algum candidato hipotético que possa ultrapassar as intenções de voto no ex-presidente e no atual presidente, algum nome que possa trabalhar por consensos mínimos e contra a polarização. O que não corresponde aos fatos, o que é uma distroção da realidade política, e tratar o atual presidente e o ex-presidente como polos simétricos. Não é o ex-presidente quem esta fazendo pregação golpista. Quem está fazendo ataques às urnas e ao Judiciário é o presidente atual. Acho que a argumentação “nem nem” não pode esquecer as nuances.
distorção