Arrumei tempo para ler estes dias o “Quando deixamos de entender o mundo”, de Benjamín Labatut, um misto de ficção com jornalismo; alguns o qualificam de romance, outros, de contos. O autor mesmo diz que é inclassificável. São cinco contos/histórias sobre cientistas, físicos, matemáticos reais, com fantasias com suas vivências enquanto trabalham suas equações, no campo da matemática e da física quântica. Einstein aparece de relance em mais de uma história, e seria o personagem mais normal, porque os outros são apresentados em seus delírios e demências, reais ou inventadas.
Bem escritas, as histórias com tanta excentricidade e loucura nos agarram, e mesmo sem grandes reviravoltas e surpresas se devoram as páginas do livro de Benjamin Labatut, que nasceu em Roterdã, na Holanda, há 44 anos e mora no Chile desde sua adolescência.
Topei com o livro de Labatut por acaso. Procurando livros de quadrinhos e histórias infantis em livraria especializada em Curitiba, há umas duas semanas, vi o volume, dei uma folheada e me interessei. Mas não comprei na hora. No outro dia, uma amiga aqui no Face escreveu entusiasmada sobre ele. Então, comprei o livro em outra livraria lá na capital do Paraná. E depois ainda li mais comentários aqui de outros amigos a respeito do livro, amigos de cuja cultura e formação sei, boas referências. Aí passei o livro do momento na frente de tantos outros que esperam na fila para serem lidos, consultados.
Enquanto lia as peripécias, reais ou não, de cientistas no começo do século passado, não deixava de lembrar do escritor argentino Jorge Luís Borges, que tem belos e instigantes contos em que inventa biografias para insignes filósofos e cientistas também, só que tudo na mais pura invenção, fulcrada na escrita mágica do bardo argentino. Ah, e não tem jeito, nessa comparação prefiro as intrigas filosóficas e labirínticas de Borges.
Para mim, Benjamin Labatut teria Borges em mente, como modelo quando passou a criar suas histórias. Que têm também lampejos do new journalism que se começou a praticar, principalmente nos Estados Unidos, na década de 60 do século passado, em que se escreviam reportagens com muito da linguagem e narrativa literária. Isso senti nas histórias de Labatut, me pareceram reportagens, até porque há uma condensação enorme de informações nos seus parágrafos. E depois fiquei sabendo que ele tem formação de jornalista.
Em matéria a respeito de um livro anterior do autor, “Después de la luz” fico sabendo que ele recolheu episódios da vida real de personalidades, entre as quais Borges e Freud. Como quem vive no Chile, imaginava evidentemente que saberia de Borges; bem, qualquer um que se meta a escrever as narrativas como as dele tem que conhecer Borges. Bem, qualquer um que escreva.
O livro de Benjamin Labatut tem o título original em espanhol “Un Verdor Terrible”. Na versão em português é que recebeu o título “Quando deixamos de entender o mundo”, que é título de uma das histórias. A versão em inglês também leva esse título.
Em entrevista a El País, Benjamín Labatut disse: “La Piedra de la Locura” (que deve ser lançado este ano) e “Un Verdor Terrible” são tentativas fracassadas, profundamente fracassadas, de colocar em palavras experiências e ideias que costumam fugir da classificação, e que contradizem o senso comum, porque falam de coisas que, até o dia de hoje, ninguém entende, pelo menos totalmente”. Isso dá bem a medida do universo em que se move e suas preocupações como escritor.
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