O dilúvio que caiu sobre a Região Metropolitana do Recife e parte da Mata Norte superou a tragédia das enchentes de 1975, quando morreram 107 pessoas. O que mudou nesses 47 anos que pode explicar este desastre? De um lado, a intensidade das chuvas num período muito curto e concentradas num espaço territorial reduzido, principalmente nas cidades da RMR, fenômeno parecido com o registrado em outras cidades do Brasil, como o desastre recente em Petrópolis. Estes são sinais inequívocos dos eventos climáticos extremos que decorrem das mudanças climáticas globais, fenômenos insistentemente anunciados por cientistas e ambientalistas. Apesar das evidências, as cidades não estão se preparando para estes eventos que devem se repetir e mesmo acentuar no futuro.
Mas o tamanho da tragédia – mais de 123 mortos, dezenas de milhares de desabrigados e destruição dos parcos patrimônios das vítimas das inundações – tem causas sociais: o crescimento da população pobre que, sem alternativa habitacional, se instala em construções frágeis em áreas vulneráveis. De 1980 a 2021, a população da Região Metropolitana do Recife aumentou em mais de 1,6 milhões de pessoas (crescimento de quase 70%), na sua maioria pobres e, portanto, sem condições habitacionais adequadas. Quase 40% da população da RMR vive com um quarto de salário-mínimo per capita. Desde 1975, os governos municipais tomaram algumas providências de proteção, lonas protetoras, muros de contenção e monitoramento das áreas de risco, nada que pudesse acompanhar a velocidade da expansão demográfica, a pobreza e a ocupação inadequada do território. E totalmente insuficiente diante da intensidade dos eventos climáticos extremos.
Diante da emergência, a prioridade é de assistência às vítimas e apoio para a recuperação dos prejuízos. Mas os governos devem preparar-se para o futuro, com medidas estruturais de urbanização nas favelas, construção de moradias, eliminação das áreas de risco e ampla drenagem da cidade. Esta é a única forma de preparar as cidades e a população para os eventos climáticos extremos, evitando que se repitam estas dolorosas tragédias sociais.
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