Luzes de um palco.

 

O espetáculo da democracia começou. Agora, oficialmente. Ilegal e disfarçadamente, já vinha desde o início do ano, alguns candidatos recorrendo a diferentes artifícios para projetar a sua imagem na corrida pela conquista do eleitorado. Não faltaram eventos e cerimônias, até mesmo comícios com mensagens claramente eleitorais. O presidente da República usou e abusou das motociatas e outras movimentações, viajando pelo Brasil com despesas pagas pelo Tesouro Nacional, propaganda ilegal com dinheiro público.

A partir desta semana, começa para valer a corrida eleitoral. Além da propaganda política por rádio e televisão e da guerra virtual através das redes sociais, os candidatos vão se expor a entrevistas e debates, quando serão pressionados a dizer o que pensam, o que fizeram e o que pretendem fazer para tirar o Brasil do buraco. Dirão? Dificilmente.

Se campanha eleitoral sempre foi mais emoção que razão, na civilização do espetáculo (Mário Vargas Llosa) é uma disputa de imagens, narrativas e encenações, a forma camuflando os conteúdos, as ideias e propostas, quando as tem, escondidas e falseadas para agradar e iludir o eleitor. Diante da “primazia das imagens sobre as ideias”, como define Llosa, a política se dissolve nos vídeos e nas lives que se propagam nas redes sociais. Nestas eleições, em particular, os comitês de campanha vão se transformar em verdadeiras fábricas de mentira e de imagens falsas para “vender” os candidatos e, ao mesmo tempo, destruir os adversários. Esta será uma campanha muito suja. O candidato Jair Bolsonaro leva uma grande vantagem nesta guerra porque já tem estruturada e operando com grande eficácia uma verdadeira indústria de fake-news.

O eleitorado brasileiro saberá perceber as ideias e as propostas por trás das imagens? Saberá discernir a seriedade, a competência e os reais compromissos dos candidatos com o futuro do Brasil? Que, ao menos, possa evitar a armadilha de mitos e salvadores da pátria e, principalmente, recuse o voto a quem, com palavras e gestos, vem ameaçando as instituições democráticas e, particularmente, a realização das eleições.