A democracia venceu e saiu fortalecida das eleições. Mas o futuro do Brasil ainda é muito incerto. A grande incerteza sobre o futuro do governo Lula reside na economia. Como ele vai administrar as suas promessas eleitorais e as enormes demandas sociais num delicado quadro fiscal e grave rigidez das finanças públicas. Se já existe uma inércia de crescimento das despesas primárias, a tentação de gastos públicos vai rondar o Palácio do Planalto nos próximos anos. E já começa com mais uma quebra do Teto de Gastos para viabilizar as muitas promessas de campanha, concentradas na transferência de renda para a população pobre. Será apenas mais uma licença para furar o teto como forma de garantir a manutenção dos 600 reais do Auxílio Brasil, ou o abandono de qualquer âncora fiscal que controle e modere o impulso gastador dos governos? Lula pode ter respondido à pergunta no seu discurso, no velho estilo lulista, na inauguração da Comissão de Transição: a âncora fiscal soy yo.

Esta é a principal incerteza dos próximos anos. No cenário internacional, é possível apostar numa certeza: a volta do Brasil ao centro do cenário internacional como um parceiro confiável e ativo nas grandes negociações globais, particularmente no tema das mudanças climáticas. No seu primeiro discurso depois da vitória, Lula anunciou “ao mundo que o Brasil está de volta”, para grande alívio da comunidade internacional, depois que Jair Bolsonaro tornou o Brasil um pária internacional, com seus discursos e medidas que aceleraram o desmatamento e da invasão de garimpeiros na Amazônia. Bolsonaro isolou o Brasil do cenário internacional, agrediu seguidamente os parceiros, muitas vezes com seu estilo deselegante e cafajeste, ameaçou retirar o Brasil do Acordo do Clima, e o seu ministro das Relações Exteriores, o patético Ernesto Araújo, chegou a comemorar o título de pária internacional.

Durante o governo Lula, ao contrário, o Brasil teve uma presença ativa no cenário internacional com participação em todos os fóruns, ganhando prestígio e credibilidade, especialmente nas negociações em torno das mudanças climáticas. A política externa do governo Lula teve também um viés ideológico, especialmente no relacionamento preferencial com governos autoritários autodeclarados de esquerda, mas nada que comprometesse a participação ativa e construtiva do Brasil nos fóruns internacionais. Agora, o Brasil está de volta, com destaque para a promessa de desmatamento zero do bioma Amazônico. Convidado pelo presidente da COP 27, Lula será, provavelmente, a grande estrela do evento. Principalmente se, como dizem, ele levar junto a ex-ministra Marina Silva, reconhecida internacionalmente como o símbolo do desenvolvimento sustentável da Amazônia.

A volta do Brasil ao cenário mundial, como um parceiro na redução das emissões de gases de efeito estufa, terá um impacto positivo na economia brasileira. Mas, os riscos de precipitações na condução da política macroeconômica podem anular os benefícios do sucesso diplomático.