O sujeito da psicanálise é constituído além do corpo físico, de desejos e pulsões. Estes dois atributos trafegam, sem que tenhamos nenhum controle, entre duas instâncias: o inconsciente e o plano da consciência.
O corpo, este da medicina, é uma mera “caixa de ressonância” dos desejos e das pulsões.
Somos, desde nossa origem, moldados pelo desejo de outros, no caso, os pais. A forma como fomos moldados, como um ser desejante, nessa relação pai-mãe-filho, construímos nossa existência: realizando, amando e sofrendo, como é próprio do humano.
O poder que a figura paterna nos impõe, sem que o saibamos, pois somos alienados ao desejo inconsciente, nossa essência, irá definir, ao longo da vida, como iremos nos relacionar com figuras substitutas que exercem sobre nós a mesma “função paterna”, como o professor, o patrão e o líder político ou religioso.
A LINGUAGEM
Todo esse processo da constituição do sujeito é realizado por meio da linguagem. É por meio dela que, desde nossa pré-infância acedemos à civilização.
Somos seres atravessados pela linguagem.
O ser humano se constitui a partir da linguagem. Em todas as culturas e em todos os momentos da evolução humana.
A POLÍTICA E A MANIPULAÇÃO DO SUJEITO
Na era da sociedade em redes, onde o poder da informação e da comunicação assume o destino da sociedade, o eleitor é, muitas vezes, facilmente aprisionado numa relação de poder emanado do seu líder, esse poderoso “pai substituto “.
A polarização política, fenômeno atávico, e que sempre esteve presente na história da humanidade, transforma-se em poderoso mecanismo de controle numa sociedade imersa e vulnerável à desinformação.
O sujeito, capturado nessa relação perversa, onde ele é um alvo fácil da desinformação, começa a construir sua visão de mundo por meio das fakenews que o perpassa, a cada clique nas redes sociais, a cada like.
OS SINTOMAS
O primeiro sintoma, e o mais grave deles, é a certeza cega de que a forma como vê o mundo é a mais certa, sem contestação. Uma certeza construída por ideologias radicais, fechadas em si mesmas, muitas vezes limitadas na compreensão da sociedade e sua complexa diversidade humana. O outro, aquele que pensa e vê o mundo diferente de mim é uma ameaça.
O segundo sintoma é o ódio ao outro, pois como minhas certezas-cegas me completam, inspiradas pelo meu líder político e sua ideologia, tudo aquilo que ameace meu líder e suas ideias é uma ameaça à minha integridade psíquica. Tenho, portanto, como mecanismo de defesa, que agredir aquele que pensa diferente de mim, que não só está fora da minha bolha, como ameaça a destrui-la.
O terceiro sintoma da captura do sujeito pela polarização política é a “visão reptiliana”, ou dicotômica. Ele só vê o nós contra eles, sem perceber que há nuances e alternativas entre os dois polos da polarização.
A DEMOCRACIA E SEUS DESAFIOS
A democracia é o momento supremo da civilização, após séculos de guerras e um incalculável rastro de mortes e destruição nesse milenar caminhar da humanidade.
É o ambiente no qual os naturais conflitos sociais buscam as possíveis soluções, subordinados a Lei, numa sociedade aberta e diversa.
Uma diversidade humana que deve ser nutrida e respeitada, pois é nela que reside a força do dinâmica ambiente democrático.
MAS, COMO SABER SE NÃO ESTOU CAPTURADO EM UMA BOLHA?
Primeiro e mais relevante processo é se municiar de conhecimento de qualidade, aquele que sempre coloca a dúvida como o principal farol desse nosso caminhar.
Apenas por meio dele é que é possível ver o outro não como um inimigo, mas como alguém que, pelo exercício do diálogo, podemos estabelecer uma relação de mútuo enriquecimento na compressão do humano e suas vicissitudes.
No campo da política, um conhecimento, que reconheça a impossibilidade de uma sociedade sem a política, sem a necessária estruturação entre Estado e sociedade civil, mas, entretanto que tenha a capacidade de quebrar as correntes da manipulação emanadas dos líderes que nos aprisionam e nos divide.
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