A decisão do TSE-Tribunal Superior Eleitoral que deverá tornar Jair Bolsonaro inelegível por oito anos ajuda a despoluir a política brasileira. Ao impedir a sua postulação à Presidência da República nas próximas eleições, o TSE retira da cena eleitoral o contraponto ao lulismo, o catalisador do antipetismo, que acentuou a polarização fanática, conseguindo, mesmo, atrair a direita civilizada e os conservadores democratas para suas pretensões reacionárias e autoritárias. O bolsonarismo pode ficar órfão. Ao contrário do que se pode pensar, a inelegibilidade de Bolsonaro não favorece uma eventual reeleição do presidente Lula da Silva. É possível mesmo que, ao contrário, a despoluição da disputa entre dois populistas carregados de fanatismo afaste de Lula uma parte do eleitorado que votou nele para derrotar Bolsonaro, e não para levar o PT de volta ao poder. Este grupo de eleitores o apoiou esperando que ele montasse um governo de frente democrática, e atuasse para distender o ambiente político do país. 

Sem Bolsonaro na disputa eleitoral, mesmo que ele continue se engajando no apoio a um dos seus seguidores, esvai-se a principal motivação de lideranças e partidos do centro-democrático para embarcar na enganadora proposta de Lula para evitar o desastre de um novo mandato de Bolsonaro, e de parte dos conservadores que seguiu Bolsonaro pelo horror que tinha ao PT. É certo que ambos – direita democrática e o chamado centro-democrático – carecem de lideranças com apelo eleitoral, de organização partidária e, principalmente, de uma agenda política clara para enfrentar os grandes problemas sociais, econômicos e ambientais do Brasil, e para preparar o país para os enormes desafios do futuro. Agenda que permitiria mobilizar o eleitorado e restaurar a confiança dos brasileiros na política e nas instituições, tão degradadas por Bolsonaro e pela polarização partidária. 

O futuro ainda é muito incerto. Mas, sem Bolsonaro numa futura disputa eleitoral, o debate político será descontaminado de arroubos de ódio e fanatismo, e as peças do xadrez político vão começar a se mover na busca de alternativas, e na formação de agrupamentos político-partidários e novos quadros de direção. Com a inelegibilidade de Bolsonaro, Lula perde a sua principal arma eleitoral: o horror ao bolsonarismo.