Na tentativa, meio canhestra, de defender o sistema político bolivariano, o presidente Lula da Silva afirmou, recentemente, que a “democracia é relativa”. Além de repetir, com todas as letras e sem citar a fonte, frase do general Ernesto Geisel, na época em que era ditador do Brasil, Lula ainda falou que cada um tem o seu conceito próprio de democracia. E adiantou que “a Venezuela tem mais eleições do que o Brasil”, repetindo o discurso de Maduro, segundo o qual, pasmem, a Venezuela tem tantas eleições que é a maior democracia do mundo. Como se o estágio democrático de um país fosse medido pelo número de eleições que realiza, e não pelas regras legais e institucionais que caracterizam um regime democrático, vale insistir: liberdades civis e liberdade de expressão, imprensa livre, direito de organização e participação, e sistema de representação e eleição transparente. É uma enorme contradição de um presidente que ajudou a deter o avanço do autoritarismo no Brasil empenhar-se no apoio ao regime autoritário do pais vizinho. 

Para acabar com o relativismo do presidente Lula, o EIU-The Economist Intelligence Unit criou um índice de democratização, a partir da análise do processo eleitoral e do pluralismo, do funcionamento do governo, da participação política, da cultura política e das liberdades civis das democracias das nações. De 167 países analisados, a Venezuela se classificou no 147º lugar, como um regime autoritário, companhia nada honrosa do Iraque, do Irã, da Nicarágua, da Arábia Saudita, da Coreia do Norte e de dois países dos BRICS, China e Rússia.

Na sua visão de democracia, Lula deu um conselho aos adversários políticos de Maduro: “Quem quiser derrotar o (Nicolás) Maduro, derrote nas próximas eleições e assuma o poder. Vamos lá fiscalizar. Se não tiver eleição honesta, a gente fala”. Mas que eleições, Lula? Maria Corina Machado, a mais forte liderança da oposição venezuelana (amplamente vitoriosa nas primárias), pretendia concorrer e derrotar Maduro nas eleições presidenciais, que nem sequer foram ainda marcadas. Mas a “democracia relativa” da Venezuela não permitiu que ela participasse do pleito, como já tinha proibido antes a candidatura de Henrique Capriles, outro importante opositor do bolivarianismo. As eleições presidenciais não serão, portanto, transparentes e “contando com a participação dos principais opositores”, como acertado no acordo de Barbados pela Venezuela. E agora, Lula? Como, nessas condições, as eleições presidenciais venezuelanas não serão nada democráticas nem livres, o governo brasileiro deveria se distanciar de vez de Maduro, e assumir a liderança de um movimento regional em defesa da democracia na Venezuela.