Nunca se reclamou tanto do calor como neste carnaval. Um evento em São Paulo teve que ser interrompido antes porque a temperatura tornou insuportável e perigosa a animação dos foliões. O carnaval ferveu, e não foi o frevo do Recife, foi a elevação da temperatura média nas festivas cidades brasileiras. Ainda há os que não acreditam e, mais ainda, aqueles que, com uma visão imediatista e consumista, preferem ignorar as previsões catastróficas das mudanças climáticas e, até mesmo, as evidências dos eventos extremos. O Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus, da União Europeia, constatou, em publicação recente, que a temperatura média do planeta já chegou a 1,5º centígrados acima da temperatura pré-industrial. Ou seja, a humanidade está fracassando na sua meta de contenção do aumento da temperatura abaixo destes 1,5º centígrados, limite para a ocorrência do colapso ambiental global. Acima deste nível, segundo as previsões dos cientistas, crescem o calor extremo, as inundações, as secas e os incêndios florestais. Tudo o que já estamos vendo, e não apenas no calor sufocante do carnaval. 

A crise climática se acelera com o desmatamento das florestas tropicais. Um estudo publicado nesta semana na revista científica Nature, tratando especificamente da Amazônia, estima que até 2050 a floresta amazônica pode entrar num colapso parcial ou total, atingindo um ponto de não retorno, o colapso do bioma que provocaria uma aceleração do aquecimento global. Vários países conseguiram, nos últimos anos, alguma redução da emissão de gases de efeito estufa, mas ainda muito insuficiente para conter as mudanças climáticas, até porque muitos outros, incluindo a China, continuam aumentando as emissões. O desmatamento da floresta amazônica diminuiu ao longo do ano, mas ainda continua alto: cerca de nove mil quilômetros quadrados, de agosto de 2022 a julho de 2023. Tudo indica, portanto, que, se não houver um esforço mais significativo de todos os países para a redução das emissões de gases de efeito estufa e do desmatamento das florestas tropicais, os próximos carnavais vão ferver muito mais.