Cadeira vazia no STF

Cadeira vazia no STF

No mesmo dia, a segunda turma do STF aprovou a prescrição de uma das condenações do ex-deputado José Dirceu, e o ministro Dias Toffoli, numa decisão monocrática, anulou todos os processos contra o empresário Marcelo Odebrecht. Dirceu vinha acumulando condenações desde o processo do Mensalão, avançando pela Lava Jato, que o condenou, em mais de uma instância (inclusive colegiada), por quase 30 anos de prisão. Ele ainda tem uma ação que o envolve nas acusações de propinas (quando foi condenado a 23 anos e 3 meses de prisão), mas parece tão confiante em futura decisão do STF que já está preparando sua candidatura a deputado federal. A prescrição é um ato objetivo de direito assegurado – a divergência na segunda turma decorre de aspectos puramente técnicos – mas indica que a legislação brasileira favorece o crime de corrupção com prazos reduzidos para a prescrição das condenações. 

E por conta dos famosos desvios processuais, o ministro Dias Toffoli anulou todos os processos e todas as investigações contra o empresário Marcelo Odebrecht, aquele que confessou os crimes de corrupção e devolveu dinheiro das propinas pagas a agentes públicos e políticos, que entregou à Polícia Federal a planilha com o esquema de distribuição de propina a agentes públicos e políticos de vários partidos. De repente, os tais desvios processuais jogam no lixo todas as condenações dos muitos corruptos, presos e condenados em mais de uma instância do Judiciário porque, segundo Toffoli, o processo não teria permitido o contraditório e a ampla defesa dos réus. Será possível? Os advogados de Marcelo Odebrecht chegam a alegar que ele teria sido forçado a assinar o acordo de colaboração premiada, como se o rico empresário tivesse sido torturado. Dá para acreditar? 

Na mesma linha de esvaziamento da Operação Lava Jato, Dias Toffoli tinha suspendido, em fevereiro, o pagamento das parcelas de multa da empresa Odebrecht acertadas no acordo de leniência assinado pelo seu presidente, que devolveria aos cofres públicos R$ 8,5 bilhões. O mesmo ministro do STF tinha tomado decisão monocrática semelhante, de suspensão do acordo de leniência da empresa J&F, também envolvida em corrupção ativa e comprometida a devolver. A suspensão não significa anulação, mas, considerando o conjunto dos argumentos que vêm sendo utilizados para demonizar a Lava Jato, muito provavelmente as duas empresas e os empresários e políticos corruptos deste país vão bater no peito e se declararem os homens mais honestos e inocentes do Brasil.