Para quem não conhece, Everton Filipe é um jovem e promissor jogador de futebol que se aposentou com apenas 26 anos porque tem um joelho de um velho de 80 anos, segundo o seu ortopedista. Depois de várias cirurgias, ele ainda sente muitas dores. Como disse certa vez Oscar Schmidt, grande jogador de basquete brasileiro, “a dor é parte do uniforme dos atletas”. Os avanços da ciência médica e da fisioterapia, é verdade, têm reduzido bastante as dores e, o que é mais importante, a aposentadoria precoce dos atletas com contusões irreparáveis. De acordo com Everton Filipe, o “envelhecimento” do seu joelho esquerdo poderia ter sido evitado, acusando a diretoria do Sport de negligência, o que é negado com veemência pelos atuais diretores. Não importa quem tem razão. Ele não teve tempo de se preparar para outra profissão depois da aposentadoria, que, como sabemos, chegou muito cedo. Mesmo que o Sport não tenha responsabilidade na aposentadoria precoce do atleta, deveria oferecer outras oportunidades de atuação dele no futebol. Como? Convidando-o para ser auxiliar técnico do time principal ou, mesmo, da base do clube, oferecendo um curso de treinador para ele se preparar para uma nova atividade futebolística. Everton Filipe foi formado na base do Sport, foi campeão do Nordeste e duas vezes campeão pernambucano, além de ser declarado torcedor rubro-negro.
Mais do que as dores físicas que fazem parte do uniforme dos atletas, especialmente no futebol, esporte de grande impacto, os jogadores sofrem grandes pressões psicológicas, algumas vezes, fortes ansiedades, angústias e depressões. A curta carreira, comum a quase toda atividade esportiva, desafia o jogador a se preparar para nova atividade profissional, na medida em que se aproxima dos 40 anos, com risco de antecipação brusca, por conta de contusões. Mais do que isto, o jogador de futebol vive num estado permanente de exaltação, stress psicológico, alternando alegrias e depressões, sob forte pressão da torcida, exigente e impaciente, que aplaude e vaia com a mesma intensidade. Num mesmo jogo, ele pode passar de herói a vilão em alguns segundos, um gol importante ou um pênalti perdido.
Cada partida é uma explosão de emoções, o atleta se movendo no meio campo dominado pelo clima de euforia da torcida que pode passar, rapidamente, do encantamento para a revolta, dos elogios às duras críticas e, mesmo, agressões verbais (quando não físicas). Depois, padece a expectativa dos comentários da imprensa esportiva, esperando louvores pelo seu desempenho e, no mínimo, compreensão pelos seus erros, podendo pular de alegria ou cair no abatimento, diante de duras críticas dos jornalistas. Jovens com idade entre 18 e 36 anos, na média, atravessam sua carreira com esta exaltação psicológica, em torno de duas vezes por semana, numa tensão permanente, excitação com o sucesso e desânimo e tristeza com os fracassos. E torcendo para não sofrer uma contusão que o obrigue a ficar fora de algumas partidas ou, quando mais grave, forçar a sua aposentadoria, como agora com Everton Filipe.
Além da dedicação aos treinamentos, do rigor da preparação física e da exigência de forte disciplina, para evoluir e se manter como um atleta de sucesso, os jogadores de futebol precisam ter uma estrutura psicológica que permita conviver com a contínua exaltação, se proteger das críticas e das vaias, além de não se deslumbrar excessivamente com o sucesso e os louvores, muitas vezes efêmeros e enganadores. Durante boa parte da sua curta carreira, jogando no Sport, no São Paulo, no Internacional e no Cruzeiro, Everton Filipe foi um atleta bem-sucedido psicologicamente. E, enquanto jogou, superou as dores das contusões. Agora, com o joelho envelhecido e a carreira interrompida, ele é um jovem deprimido e inseguro em relação ao futuro. Agora, cabe ao Sport retribuir a história de sucesso de jovem jogador no clube.
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