Raramente um debate eleitoral serve para orientar a decisão dos eleitores. É mais um evento de exposição dos candidatos, da performance de cada um deles diante das câmaras, do seu desempenho plástico, mais da forma que dos conteúdos das suas propostas políticas para o país. E quando todos os candidatos procuram responder às expectativas dos eleitores captadas pelas pesquisas eleitorais, não haverá muita diferença das propostas. Orientados pelos marqueteiros, os candidatos tendem a oferecer ao eleitor comum soluções simples, de resultados rápidos e sem custos sociais. E, no fim das contas, os resultados das urnas podem nem ter muita importância no futuro dos países, especialmente um país com grande rigidez estrutural e institucional. O mesmo não pode ser considerado quando se analisa o debate entre Kamala Harris e Donald Trump realizado esta semana na Filadélfia. De um lado a hábil e serena candidata democrata, retrato da miscigenação da nação norte-americana, do outro o magnata arrogante, egocêntrico e demolidor Donald Trump.
As características e a performance dos dois candidatos são muito diferentes e evidenciaram distintas concepções e orientações políticas para a grande potência econômica, geopolítica e militar do planeta. Quase todos os analistas políticos e os principais órgãos de imprensa no mundo afirmam que Kamala Harris, candidata do Partido Democrata à Presidência da República, jogou Donald Trump nas cordas, empurrando-o para a defensiva, deixando o agressivo ex-presidente confuso e desorientado ao lidar com temas relevantes da política norte-americana. Pesquisa da CNN realizada após o debate mostrou a superioridade de Kamala Harris na opinião dos eleitores. Numa eleição tão disputada, todos os institutos indicando empate técnico, o debate pode decidir o futuro político dos Estados Unidos e, a partir dele, o destino do planeta e, não seria exagero dizer, o futuro da humanidade.
Os dois candidatos divergem radicalmente em quase tudo, na política externa, social e migratória e, principalmente na política ambiental, para não falar no respeito aos princípios democráticos. Diante das evidências das mudanças climáticas e dos efeitos em eventos extremos, o ex-presidente Trump defende abertamente a ampliação da exploração de petróleo e a rejeição do Acordo de Paris para reduzir a emissão de gases de efeito estufa. Esta não é única divergência entre Harris e Trump mas, sem dúvida, é a de maior relevância para o futuro da humanidade. Neste sentido, o debate pode ter representado um passo importante para a vitória de Kamala Harris. Como falou Barak Obama no discurso na convenção do partido, atacando Trump: “Não precisamos de mais quatro anos de gritos e caos. Já vimos esse filme antes e todos sabemos que as sequências geralmente são piores”.
Devido à forte polarização hoje existente nos Estados Unidos, bem como à pequena margem de votos que dará a vitória a um dos candidatos, fica fácil prever a eclosão de eventos muito desconfortáveis se Kamala Harris ganhar a eleição