Do meu ponto de vista, como torcedor de futebol que acompanha à distância os times europeus, Vinicius Junior, atacante brasileiro do Real Madrid, é o melhor jogador do mundo no momento. Como milhares de outros observadores, achava que ele deveria ter ganho a Bola de Ouro, prêmio concedido anualmente ao melhor jogador do mundo (que joga na Europa) pela revista *France Football*, em parceria com a UEFA – União das Associações Europeias de Futebol. Entretanto, a reação raivosa e indignada do atleta ao saber que não ganharia o prêmio máximo, recusando-se, inclusive, a comparecer ao evento festivo de entrega dos prêmios, demonstra uma grande arrogância do jogador e de seu clube. E constitui, além do mais, um grande desrespeito ao jogador espanhol, o volante Rodri, do Manchester City, que foi agraciado com o prêmio de melhor jogador do mundo. Essa ausência total de fair play mostra, mesmo a posteriori, que ele não merecia o prêmio.
Pode ser compreensível a postura de um garoto ainda muito jovem, que saiu da pobreza no Brasil para ganhar fama e vive sob grande pressão e enorme expectativa de ser o melhor do mundo, uma exaltação permanente e um deslumbramento com a riqueza. Também se pode desculpar sua atitude considerando que ele tem sido vítima frequente de racismo por parte de torcidas adversárias do Real Madrid. Mas afirmar que a concessão do prêmio a outro atleta teria sido “um roubo histórico”, como fez o presidente do Real Madrid, é uma acusação grave e, até prova em contrário, totalmente infundada e desrespeitosa, como se houvesse uma conspiração para prejudicar o próprio Vinicius Junior e o Real Madrid. A escolha do premiado com a Bola de Ouro é feita por cem jornalistas especializados de todos os países com relevância no futebol mundial, distribuindo pontos a uma lista de jogadores pré-selecionados e de acordo com três critérios: o desempenho individual (caráter decisivo e impressionante) do atleta, as conquistas que ele alcançou no ano pelo seu clube e seleção e a classe e o jogo limpo do atleta.
No desempenho individual, o brilhantismo e a exuberância de Vini Jr. devem ter superado todos os outros pré-selecionados. No segundo critério, conquistas nos clubes em que os atletas participaram, Vini Jr. deve ter recebido muitos pontos, já que o Real Madrid se destacou com vários títulos, mas ele teve uma atuação considerada medíocre na seleção brasileira, que não conseguiu bons resultados (na Copa América, o Brasil não passou das quartas de final). O volante Rodri, meio-campista clássico, de passe refinado e finalização precisa, conquistou a Eurocopa com a seleção espanhola. Como analisou o jornalista brasileiro Murillo César Alves, “o diferencial para que Rodri superasse Vini Jr. foi o seu desempenho na seleção espanhola. Além da invencibilidade, o espanhol liderou a Espanha à conquista da Eurocopa, de forma invicta, sendo considerado o melhor jogador da competição”.
Supondo que Vini Jr. ganhou no desempenho individual e Rodri saiu vitorioso na atuação e nas conquistas das equipes em que jogou, o desempate pode ter sido no último critério, a “classe e o jogo limpo”. O jogador brasileiro tem sido muito criticado por vários jornalistas por seu comportamento indisciplinado, pelos cartões amarelos e pelas provocações trocadas (Luís Miguel Sanz, subeditor do jornal *Sport*), mesmo que justificadas como reação às agressões racistas que tem sofrido. A campanha antirracista de Vini Jr. tem tido um papel importante no combate ao racismo em geral e, particularmente, no futebol. E é compreensível que ele se exalte e brigue contra os agressores que pretendem desequilibrar sua atuação futebolística. O fato é que a postura de Vini Jr. em campo tem incomodado outros jogadores, clubes e comentaristas esportivos, tendo, possivelmente, influenciado negativamente sua pontuação no último critério de escolha do melhor jogador do mundo.
A reação arrogante do jogador brasileiro ao saber que a Bola de Ouro foi para o volante Rodri, do Manchester City, num total desrespeito ao premiado, contrasta com a classe e o jogo limpo que se exige de um atleta de primeira grandeza.
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