Mercosul/União Europeia

Mercosul/União Europeia

As negociações se arrastavam, há anos, com resistência de parte a parte e pouca gente ainda acreditava na viabilidade política do acordo comercial do MERCOSUL com a União Europeia. O próprio MERCOSUL vinha sofrendo um esvaziamento, com o Uruguai e o Paraguai apostando em acordos separados, e o novo governo da Argentina, com Javier Milei, ameaçando implodir o bloco. E, no entanto, na semana passada, o acordo foi assinado, em Montevideo, definindo as bases do tratado de livre comércio entre os dois blocos, com redução drástica de tarifas alfandegárias (tarifa zero em mais de 90% dos produtos comercializados entre os quatro países sul-americanos e as 27 nações europeias). Com o acordo, o MERCOSUL se fortalece, superando as iniciativas de negociação comercial isoladas dos países membros, incluindo o governo argentino, que parece perceber a importância do acordo comercial com a Europa. 

Antes de entrar em vigor, o acordo ainda terá que ser ratificado pelo Conselho da União Europeia, pelos parlamentos dos países membros da União Europeia – enfrentando a oposição da França e da Polônia – e pelos Congressos dos países do Mercosul. Mas a simples conclusão das negociações com sucesso, expresso na assinatura dos entendimentos em Montevideo, tem um enorme significado econômico e diplomático para os dois blocos. Para o Brasil, o maior e mais industrializado país do MERCOSUL, o acordo representa um passo para a inserção mundial com o acesso a um mercado de mais de 700 milhões de pessoas com renda alta e um PIB-Produto Interno Bruto de, aproximadamente, US$ 22 trilhões, pouco abaixo dos Estados Unidos (US$ 29,17 trilhões), bem acima da economia chinesa (US$ 18,27 trilhões) e quase quatro vezes o PIB brasileiro, US$ 2,19 trilhões. Do ponto de vista geopolítico, o acordo MERCOSUL-UE contribui para a diversificação do comercio internacional, atualmente concentrado em dois grandes parceiros, Estados Unidos e China, contribuindo para a despolarização no jogo de poder global. 

Nos médio e longo prazos, a aliança comercial deve promover mudanças estruturais relevantes no Brasil, a começar pelo compromisso do Estado brasileiro com os Acordos de Paris e as metas de redução de emissões de efeito estufa, reforçando o esforço para deter o desmatamento da floresta amazônica. Na economia, a eliminação das tarifas comerciais com os parceiros europeus abrirá grandes oportunidades de atração de capital, acesso a tecnologias e aquisição a menor custo de equipamentos, insumos e serviços industriais que aumentam a produtividade da economia brasileira. Na verdade, a abertura da economia constitui uma pressão positiva para investimentos na competitividade e na produtividade das atividades econômicas do Brasil, condição para uma inserção competitiva nas cadeias globais de valor. 

O Acordo MERCOSUL-União Europeia vai na direção contrária do isolacionismo e protecionismo de Donald Trump, o futuro presidente dos Estados Unidos, e do movimento mundial da chamada desglobalização. Neste sentido, é a grande novidade no cenário internacional, somando-se e, ao mesmo tempo, concorrendo com a China e seu projeto de expansão da Rota da Seda.