O brasileiro tem uma relação de amor e ódio com a rede Globo de televisão que completa agora 50 anos de sua presença e entrada diária nos lares do Brasil. Esta longa e contraditória história de admiração e rejeição reflete uma mistura de reconhecimento pelos seus méritos e pela qualidade dos seus produtos com uma enorme desconfiança em relação à imparcialidade que deve ter um órgão da comunicação de massa. O amor se manifesta mais claramente nas novelas e seriados, enquanto o ódio fica evidente nos noticiários, sendo o Jornal Nacional talvez o mais detestado dos programas da Rede Globo. No entanto, a sua média de audiência é duas vezes superior aos seus concorrentes que, dificilmente têm a mesma riqueza de informações e seguramente não estão vacinados contra a parcialidade, o que demonstra a aceitação por parcela significativa da população. As novelas e as séries especiais têm um padrão de qualidade cênica e dramatúrgica de nível internacional, reconhecidas e respeitadas em todo o mundo, reunindo os melhores e mais talentosos diretores, atores e atrizes do Brasil. Mesmo assim, estas obras de arte tem uma enorme influência nos costumes, na educação, na formação dos brasileiros, nem sempre positivos, assim como a questionável padronização cultural no território.
O tamanho e a força econômica da Globo são fatores determinantes do seu sucesso e do amor que desperta na população, da mesma forma que geram desconfiança e insegurança sobre o sua influência na formação da opinião pública. Casos obscuros e aéticos do passado da grande emissora desperta desprezo e rejeição à Globo. Mas parece que nada acontece e ninguém existe no Brasil se não for apresentado e citado na rede Globo. Os políticos de todos os matizes, incluindo os seus inimigos mortais, como o PT, têm uma relação paradoxal com a Globo: aspiram desesperadamente por um espaço e uma referência na sua rede ao mesmo tempo em que a desprezam e rejeitam quando se sentem preteridos ou ignorados (pior quando alguma referência não os agrada). Para os governantes, expostos e, ao mesmo tempo, excessivamente sensíveis a críticas, a imprensa incomoda, especialmente quando se trata de uma emissora com tanta influência na formação da opinião pública. Por isso, os simpatizantes dos governos (especialmente do PT) consideram a Globo o principal expoente do chamado “PIG-Partido da Imprensa Golpista”.
Como todo órgão imprensa, a Rede Globo tem uma linha editorial e política que se expressa nos seus editoriais como a sua opinião. Mas os seus dirigentes e editores sabem que, quando se trata de veiculação de notícias e informações, a imparcialidade (ou a tentativa de) é fundamental para a sua credibilidade junto à opinião pública; e para evitar processos de calúnias e danos morais de parte dos citados indevidamente nos meios de comunicação. Aos jornais e revistas de partido bastam o reconhecimento e a simpatia dos seus militantes. Mas para um órgão de imprensa não partidário que veicula informação (reportagens e notícias) é fundamental o reconhecimento e respeito da sociedade para sua sobrevivência que passa pelos índices de audiência. Nenhuma informação pode ser veiculada sem levantar e divulgar o contraditório para permitir as diversas visões e versões dos eventos e fatos.
Além disso, é necessário distinguir a linha editorial de um meio de comunicação, como a rede Globo, do seu corpo de profissionais, jornalistas que, na sua esmagadora maioria, têm compromisso com a qualidade e imparcialidade da informação. A grande emissora de televisão tem, reconhecidamente, alguns dos melhores jornalistas e repórteres do Brasil, profissionais competentes que forma o sistema televisivo da empresa. Em última instância, o que é veiculado por um órgão de imprensa, excetuando o seu editorial, não é o seu dono ou mesmo editor define, é produto também e em grande medida de uma rede complexa de reportagem, análise e produção dos seus jornalistas, cada um deles também com uma visão de mundo nem sempre coincidente com a do proprietário.
Não é raro que o ódio à Globo seja projetado também sobre alguns destes respeitáveis jornalistas. Durante as manifestações do movimento “Passe Livre”, em 2013, o repórter Caco Barcellos foi hostilizado, chamado de manipulador e agredido por um grupo de quase uma centena de manifestantes, tentando impedir a liberdade de realização do seu trabalho. “Só fui impedido de trabalhar pela ditadura e sob tortura”, protestou Caco Barcellos, jornalista com um respeitável histórico de reportagens e matérias em defesa dos direitos humanos e de denuncia da violência policial, sistematicamente publicadas em programa e noticiários da Globo.
No fundamental, a Globo não é exatamente a manipuladora-mor da imprensa brasileira, como pensam os que a odeiam, nem tampouco o perfeito e equilibrado meio de comunicação de massa. A Globo é uma empresa de comunicação – grande, complexa e poderosa – com indiscutível qualidade e capacidade artística e jornalística mas também com as imperfeições e defeitos de uma organização que lida com informação e conhecimento.
Na historia do Século XX toda a supressão parcial a liberdade de Imprensa terminou levando a supressão de toda e qualquer liberdade .
Não há imparcialidade em nada na vida. Desejá-la é alimentar hipocrisia.
Caro Carlos
A imparcialidade é difícil em qualquer trabalho intelecual ou jornalistico mas é sim desejável e deve ser perseguida. O intelectual ou jornalista sério deve fazer um esforço, nem sempre completamente bem sucedido é verdade, para não ser contaminado por ideologias, procurando se isentar da parcialidade, procurando ouvir e divulgar diferentes fontes e percepções. A parcialidade intencional, partindo confortavelmente da sua visão que a imparcialidade é uma hipocrisia, levaria a que todos mentissem, distorcessem a realidade, alterassem os fatos propositadamente. Levando ao extremo esta visão, não haveria nenhuma necessidade de informação nem de pesquisas porque cada um diz apenas o que lhe é conveniente, por interesse material ou por condição idológica. Cada um de nós lê um jornal e assiste um noticiário esperando que as informações veiculadas não sejam uma pura expressão das ideologias de quem escreveu. No limite, eu pergunto: pra que ler os jornais e assistir televisão se sabemos que tudo é tendencioso? Bom, conhecendo as dificuldades da imparcialidade, o que se pode fazer para enriquecer o conhecimento e completar a informação é ler vários órgãos de imprensa e assistir vários canais de televisão,incluindo a rede Globo. Sergio
Olá,
Considerando o imenso poder e a enorme responsabilidade da Globo, me ocorre sugerir – sem muito pensar – um “conjunto de medidas” (expressão favorita do Governador de Pernambuco) para destravar algumas coisas que me parecem enferrujadas:
a) Nos telejornais, abolir essa história de “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite” para todo repórter que entra no ar. Essa obrigação cansa, é melosa e não existe sequer no Japão – onde os ritos forçam a linguagem a ser empolada e cerimonial. Portanto, a regra passa a ser ir direto ao ponto. O combinado não é caro;
b) Abolir a chamada para programas da própria rede de televisão no espaço do noticiário. O chamado conteúdo editorial deveria ser sagrado. É um pouco solerte essa história de falar da grade de programação num momento em que a gravitação compulsória em torno do noticiário mais atrai audiência. A Globo já não precisa desse expediente circense;
c) Aproveitar os anos não-eleitorais para ministrar aos jornalistas treinamentos em grande coberturas, especialmente em entrevistas. Bonner, o bom rapaz, se atrapalhou tremendamente ano passado ao formular perguntas redundantes aos presidenciáveis e enunciá-las com tal prolixidade que, no final, terminaram comendo o tempo líquido dos candidatos. O pior é que ele achou que estava abafando. Desculpe, William, você pode evoluir ainda muito nesse tereno;
d) A Globo não vive a penuria do Itamaraty. Ora, se o MRE tem embaixada até no Nepal, eles poderiam ter correspondentes mais pulverizados. É dar prova de pão-durice (e ingnorância geopolítica) pedir que Jerusalém cubra Teerã; Buenos Aires cubra Bogotá; Tóquio cubra Jakarta e Londres fique com o resto do mundo, onde o sol jamais se põe. Se o diretor de jornalismo me der um telefonema, eu rearrumo a distribuição da moçada dele mundo afora, de acordo com os vetores de tração da Terra. E, por amor à causa, não cobrarei nada;
e) Falando nisso, sugiro dobrar o salário de Maria Beltrão (ela é o máximo, essa mulher) e condecorar Eliane Catanhede (tem a coragem de todos os homens somados e o desassombro feminino que eu já dava por extinto). Ademais, daria um bônus generoso a Leilane Neubarth por ter que dividir espaço com Vidor, o da gravata-borboleta. Não falo pelo adereço; mas pela preguiça de desenvolver um reciocínio desse senhor; pela previsibilidade do que diz e pela maneira esquiva de dar nome aos bois.
Será que eu teria mais alguma sugestão? Talvez,logo saberei.
Um abraço especial para todos que, como eu, detestam a noite do domingo (outro ponto em que a responsabilidade dessa emissora é abissal).
Fernando Dourado
Oi,
Só para aplacar minha insônia e fazer umas últimas digressões sobre a rede Globo – em aditamento ao que já escrevi na postagem passada.
Aqui vai:
a) Seria bom que esse pessoal pensasse seriamente na qualidade do entretenimento da TV aberta da tarde-noite de domingo. Convenhamos, é horrível; é degradante. Com reservas, tenho uma tese: aquele rapaz que era até engraçado quando era gordo, se transformou num caricatura do que foi. Demagógico, irritadiço, grosseiro, presunçoso, previsível – pois bem, passa da hora de botar alguém no lugar. Ele é muito fraco;
b) Um detalhe trágico-anedótico: ainda hoje acho que ele foi indiretamente responsável pela morte de meu pai. Foi assim: papai achava que ele pagava para alugar o horário e vendia os badulaques dele, embolsando o tal do “merchandising”. Papai dizia: ele deve pagar bom dinheiro porque os Marinho devem ficar estomagados em ver tanta porcaria no ar. Então eu disse que lera que que o arranjo era outro. Ele era pago, e não era pouco dinheiro, não. Papai não acreditava. Morreria poucos dias depois. Não havia lugar no mesmo país para ele e aquela entidade;
c) Seria muito bom que eles passassem os filmes na língua original e os legendassem. Já temos uma péssima base linguística de Brasil afora. Ora, um pouco de filme em inglês, francês, catelhano etc poderia perfeitamente operar o milagre do aprendizado rápido em muitas crianças. Por que a dublagem? Quem ganha com isso? Pois bem, que sejam indenizadas, mas não fiquem nos freando por mais uma geração. Cada língua que se fala, é um universo novo em que despertamos;
d) A Globo – e nesse ponto não sei se ela detém a chave do enigma – podia se empenhar para que o som não ficasse subitamente tão alto quando entram as chamadas comerciais. O cachorro de minha casa só falta enlouquecer quando entram as propagandas. Tem um garoto-propaganda de uma loja de eletrodomésticos que chega aos gritos e com visíveis sinais de embriaguez. O cachorro fica tão apavorado que uma vez tentou se jogar do alto do prédio. Botei uma tela; agora quando o cara aparece, ele vai para baixo da mesa e encobre os olhos com as patas;
e) É chato esse negócio de obrigar todo mundo a falar com um sotaque pasteurizado, meio uniforme, de norte a sul do país. Dia desses conversei com um locutor de televisão que também é ator. Uma coisa é ele falando na mesa com a gente. Outro sotaque e inflexão tem quando está na tela. Acho isso um pouco truculento. Em países como China, Suíça e Alemanha há uma grande preocupação em falar a língua culta quando emitida nacionalmente. Mas lá é vital. Os dialetos são desconcertantes e incompreensíveis de uns para outros. Mas aqui? Pode-se perfeitamente manter a integridade do funcionário sem lhe enxaguar o cérbro desse jeito;
f) Por fim, quero desejar felicidades para uma mulher com voz de sono que tem um programa de manhã que raramente vejo. Ela faz comida e conversa com um papagaio de plástico. Tem um problema de dicção seríssimo e as plásticas não devem ter ajudado porque até dentuça ficou. Ela fala sem mexer os lábios. Mas deve estar se aposentando.
É isso, agora vou dormir.
Abraço,
Fernando
A qualidade técnica e profissional da Globo é indiscutível.
Já a qualidade dos conteúdos dos programas, é uma lástima, salvo honrosas exceções (que são veiculadas ou muito cedo, ou muito tarde). Com o advento da TV paga, a TV aberta, no seu horário mais assistido, virou-se para a parcela da população mais ignorante com programas de nível intelectual baixíssimo.
Quanto à imparcialidade, pergunto: quem é imparcial? Basta o tom ou a fisionomia do repórter para demonstrar sua opinião sobre a notícia que relata.
Viajo muito pelo Brasil e em qualquer churrascaria de posto de gasolina à pizzarias e lanchonetes, todos os aparelhos estão sintonizados na Globo. Sempre. Sua responsabilidade em formar opiniões é de fato enorme, sobretudo para aquelas pessoas que não procuram outras fontes de informação ou não têm poder de analisar as que recebe. Ao final quero dizer que o problema não é exatamente a rede Globo e sim a Pátria sem Educação, sem discernimento para entender e criticar as notícias que chegam aos seus ouvidos e aos seus olhos.
Vejam só como a capacidade de se propagar da Globo é interessante e bem dirigida. Eu sou dos que não votaria a favor da Globo, mas temos que reconhecer seu poderio. Ao lanças a campanha dos 50 Anos, atraiu para si todos os holofotes; sejam dos que amam ou dos que odeiam e ela, está sempre em evidência. Fator que faz sobreviver qualquer emissora. Remoendo o que já tanto se disse. “.. Falem mal, mas falem de mim…”