Editorial

Está cada vez mais difícil manter, em relação à nossa Corte Suprema, a atitude de respeito que deve ser devotada à suposta máxima guardiã do Direito e da Ordem Democrática em nosso país.  Sua recente decisão, por “voto de Minerva” do presidente, estabelecendo a exclusiva competência da Justiça Eleitoral para julgar crimes de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, peculato e outros, desde que “conexos” a crimes eleitorais, foi um verdadeiro escárnio à nação brasileira.  Todos, absolutamente todos, sabem que a Justiça Eleitoral não pode dar conta de tal encargo, pela sua própria natureza: sem corpo próprio de magistrados, sem estrutura, sem aparelhamento, para não invocar outras debilidades.  E a maior prova disso tem sido verificada e  pode-se observar cotidianamente: decisões que implicam perda de mandatos, por infrações eleitorais, só são proferidas, em caráter definitivo, quando os mandatos já foram integralmente cumpridos…  Seria cômico, se não fosse ignominioso.  Como é igualmente escarnecedora a atitude de falsas vestais com que alguns ministros procuraram justificar seus votos espúrios.  Pela sua vida pregressa, antes e já em exercício de função no STF, todos os cidadãos minimamente informados sabem de suas verdadeiras motivações: proteger amigos, padrinhos políticos, velhos correligionários…  Ao verdadeiro crime de lesa pátria que eles cometeram, com tal decisão, acrescente-se o lamentável pecado da hipocrisia.  Causa-nos verdadeiro choque imaginar o que poderão fazer no próximo mês, quando estará pautada uma revisão da regra jurisprudencial, do próprio STF, relativa à prisão de condenados julgados por tribunais, em segunda instância.  Se agirem com  a mesma desfaçatez, as portas das prisões serão abertas para todos os criminosos de colarinho branco.  Será o fim da Operação Lava Jato, e da teimosa esperança brasileira em uma nova era para a representação política, a administração e a Justiça do país.  Difícil imaginar a comoção social que provocará, e suas consequências.