Toda virada do ano, a imprensa se enche de previsões sobre o ano que se inicia, videntes de todas as seitas e credos antecipando o que deve acontecer na política, na economia, na natureza e até na vida privada das celebridades. Sopro de guias espirituais, leitura dos astros, interpretação das cartas ou das pedras do tarô, as fontes são muitas e as previsões cheias de imprecisões e vagas mensagens para eludir as críticas e enganar os fiéis, do tipo “algumas pessoas vão se sobressair neste ano”, “o ano vai ser muito quente”, ou “alguns ministros de Dilma vão cair”.
Existe um ditado árabe que diz: “Aquele que prevê o futuro, mente mesmo quando diz a verdade”; afirmar o que vai acontecer no futuro é uma mentira pelo simples fato de antecipar o que é incerto e indeterminado, resultado de um jogo complexo de múltiplos fatores em interações – incluindo a ação dos homens – impossíveis de prever. Assim, mesmo que no futuro se confirme o previsto, no momento em que foi enunciado constituía uma grande farsa.
O que é possível e lícito é especular sobre tendências e hipóteses de desdobramentos futuros dos fatores determinantes, analisando as informações, refletindo sobre as circunstâncias como fazem os próprios videntes embora dizendo tratar-se de uma mensagem espiritual. Mesmo sem aceitar o poder de influência dos astros sobre a sociedade e as pessoas, parece aceitável o trabalho de alguns astrólogos que, como Eduardo Maia, afirma não fazer previsões e apenas indicar tendências utilizando recurso psicoterápico.
Mas a imprensa está cheia de previsões afirmativas baseadas em fatores espirituais sobre eventos do mundo cotidiano, muitas vezes dizendo o que parece óbvio. Em entrevista à revista Isto É da primeira semana do ano, o “médium” Robério Ogum questiona a expectativa da presidente Dilma de um “pibão” em 2013 afirmando que “seria muito pretencioso, diante de todas as circunstâncias (grifo meu), cravar que teremos um pibão, que só a gente vai crescer. Como espiritualista, eu não consigo enxergar isso. Não tem Dilma ou Barak Obama com força suficiente para atenuar o que vem em 2013”. Esta análise das circunstâncias econômicas faz parte de todo exercício de reflexão de economistas e cientistas políticos mundo afora, fundamentando suas expectativas nas informações e dados reais e concretos e sem necessidade de uma hipotética inspiração mágica de cartas, guias ou pedras.
Para não falar do ridículo de algumas das previsões como a de que o “Brasil será campeão (da Copa das Confederações) com certa facilidade”, o vidente Robério de Ogum ainda ousa prever mortes de personalidades: neste ano de 2013, diz ele na citada entrevista, “vamos perder um grande ex-jogador de futebol, outros dois que foram campeões do mundo, duas das maiores atrizes da televisão, um grande homem da comunicação esportiva e um grande cantor de música popular”. Ah! Ele sabe inclusive quem são as vítimas e só não diz os nomes por temer processos jurídicos. Pode?
Para não duvidarem do seu poder de previsão, o vidente lembra que, no ano passado previu a queda do ex-treinador Mano Menezes; e ele caiu. Precisava de algum guia espiritual para antecipar a probabilidade este evento? Vale lembrar o provérbio árabe: se ele afirmou categoricamente que Mano Menezes seria demitido, ele mentiu embora o fato tenha se confirmado. Os fatores que o levaram à previsão estavam à vista de todo mundo mas poderiam ter sido evitados por vários outros fenômenos não previsíveis mas possíveis, como a conquista das Olimpíadas. Podia ter conquistado? Claro que podia; especialmente no futebol, a força do acaso e imprevisto é muito grande e ninguém poderia afirmar o contrário como parece uma leviandade afirmar que o Brasil vai ser campeão da Copa das Confederações.
Folclore à parte, a divulgação destas previsões mágicas do futuro é um desserviço à sociedade, conferindo credibilidade à farsa da previsão, com o risco de gerar temores ou conformismo nos cidadãos crédulos, e alimentar um já florescente “mercado das almas” para os videntes de todas as linhas.
Prezado Sérgio, achei interessante seu artigo pois é raro encontrar uma crítica em tom de seriedade a este ramo de atividade, creio que posso chamar assim, pois há uma postura de “prestação de serviços” por diversos métodos, a maioria citados por você. Não entendo muito desse assunto – sou apenas uma observadora que trabalha com gente – mas acredito que isso se deva à boa dose de autoengano que nós parecemos precisar para viver. Não fosse assim, não veríamos pessoas de boa cultura e ótima capacidade de discernimento se dobrando, não só a essas previsões gerais, mas também a intervenções em questões da sua própria vida, das comezinhas às mais importantes, como por exemplo, por ocasião de uma doença grave. A falta de certezas absolutas no campo da ciência também parece contribuir com o alastramento dessas práticas ilusórias; criou-se um “mercado” opcional/alternativo para resolução dos mais variados problemas, onde rola muito dinheiro. A falta de confiança nas instituições – até mesmo na religião – talvez contribua também com a busca dessas ilusões, nas maioria das vezes mascaradas como verdades. Acho que a maioria das pessoas hoje já compreende que muitas dessas coisas não passam de farsa, entretanto, há muita gente que “por via das dúvidas” ainda consulta o horóscopo antes de sair de casa. O jeito, em nível privado, é aceitar; mas quando a imprensa em peso abraça a divulgação maciça disso – quando deveria no mínimo questionar – acho bom que uma voz se levante pra reclamar.
VIDENTE SÃO TODOS UMA VERDADEIRA FARSA. ELES GANHAM O DINHEIRO ILUDINDO AS PESSOAS. SE VIDENTE FOSSE VERDADE ELES ESTARIAM MILIONARIOS PORQUE ACERTARIAM OS NUMEROS DA MEGA SENA E NUNCA ACERTA NEM 4 DEZENAS QUANTO MAIS 6 DEZENAS
farsa ou não Robério de Ogum acertou , Hebe estava se recuperando muito bem de-repente se foi, bom não vou ficar citando nada todos que le sobre previsões sabem delas,e com certezas pessoas que criticam de mais são as que mais procura saber e se alguma coisa não sai como o esperado criticam.
O BRASIL FOI CAMPEÃO DAS CONFEDRAÇÕES COM FACILIDADE, E DOIS JOGADORES CAMPEÕES FALECERAM. AS VEZES ELES ACETAM
O Tite caiu, e o Nilton Santos acabou de falecer. As vezes temos que dar o braço a torcer sr. Sérgio Buarque.
e mesmo tenho muita vontade!
Seu artigo nos faz divagar, devagar, para assimilar o conteúdo, mas, nesse divagar devagar, vem à mente uma palavra: cenário. Ela nos remete a um sem número de aplicações, usos, e mesmo estudos. O porvir, nada mais é, na minha opinião, que a montagem de mosaicos que se adequadamente posicionados, nos dão uma ideia de uma cena, um ambiente, um lugar, pessoas, enfim, retornamos ao cenário. Em minha atuação profissional como um estudioso de cenários, para uns, um lunático, busco vislumbrar o que pode ocorrer, empregando um pouquinho de matemática para precificar as probabilidades das ocorrências. Mas tudo não passa de um cenário. No presente, passado ou futuro, o cenário não passa de um instante. Em algumas áreas do conhecimento, seja político, econômico, social, industrial, esses cenários poderão representar oportunidades, perdas, enfim, algo futuro, possível, independente das partes, capaz de causar perdas ou danos e de essas poderem vir a ser precificadas. Assim, sai-se de um cenário para se estudar os riscos. Muitas vezes não nos damos conta que os riscos são tão evidentes que nem precisam ser estudados adequadamente. As pedras do caminho são posicionadas perfeitamente, uma ao lado da outra. A presidente passada construiu sua trilha. Outros também o fizeram. Se julgarmos as trilhas como algo que faz parte da natureza humana passamos a ter o que “foi escrito nas estrelas”, ou nossas sinas. Deve-se pontuar adequadamente todas essas questões entrelaçadas, para que não se esqueça que a matemática é nossa cúmplice nos estudos dos cenários futuros, seja quanto aos desmatamentos e suas consequências, no resultado da briga dos irmãos Lo Niño e La Niña, da falta de união de partidos políticos, nos investimentos mal feitos, enfim, todas as ações humanas podem ser estudadas. As previsões de tempo eram para dois dias. Agora já abrangem 8 dias. Não há necessidade de vidência e nem do concurso das pitonisas ou do Oráculo de Delphos. Bastam pitadas de percepção, aplicação de algum conhecimentos de estatística e matemática, experiências do passado, e um “cheirinho de sorte”. Pronto, o caldeirão de adivinhação está pronto.