A autorização do Governo cubano para a primeira viagem ao exterior da blogueira oposicionista Yoani Sanchez foi recebida e interpretada como uma indicação, mesmo tímida, de distensão política em Cuba. Ou, pelo menos, como um sinal de que o governo dirigido por Raul Castro pretende reduzir a repressão aos opositores e à liberdade de expressão. No entanto, os simpatizantes brasileiros do governo cubano demonstraram, na recepção à Yoani, intolerância diante das ideias e pensamentos discordantes. Consistentes, portanto, com seu apoio ao sistema politico de Cuba, que não tem nada de democrático, fizeram manifestações barulhentas e ameaçadoras que impediram a realização de eventos com a blogueira oposicionista. Querem a democracia apenas para os seus espaços de manifestação , impedindo a voz dos seus opositores com métodos que ultrapassam os limites da convivência social. Yoani reagiu com muita elegância à agressividade dos manifestantes: “Quem dera houvesse em Cuba essa liberdade de expressão”. Mas a democracia pressupõe tolerância com a diversidade de opinião e com o contraditório, apresentando e formulando as divergências no debate de ideias e garantindo aos adversários a sua liberdade de expressão. Depois de anos de intolerancia em Cuba, Yoani Sanchez vem ser agredida por fanáticos autoritários no Brasil?
Matérias jornalísticas muito mais informadas sobre Yoani Sánchez podem ser lidas entre nós, para além de nossa a-crítica e apologética grande mídia, ou da crítica mal educada de jovens afobados que muito mal serviu à causa cubana e mais serviu à grande mídia:
Em primeiro lugar, esta entrevista com a blogueira cubana publicada, em 3 partes, pelo site Opera Mundi (é longa mas vale a pena):
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/3806/conteudo+opera.shtml
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/3819/conteudo+opera.shtml
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/3818/conteudo+opera.shtml
Mais várias questões para as quais não temos respostas:
http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/02/as-40-perguntas-que-yoani-sanchez-nao-ira-responder.html
E ainda esta matéria do jornalista Leandro Fortes, publicada em sua página no Facebook:
Leandro Fortes, no Facebook
Yoani Sanchez vive, hipoteticamente, em uma terrível ditadura comunista onde fazer oposição ao governo é proibido. Mas, ao contrário do que ocorria com os dissidentes soviéticos, por exemplo, ela não vive presa em um gulag submetida a trabalhos forçados, mas em casa, em frente ao um computador, postando em um blog particular.
Além disso, Yoani Sanchez, ao contrário dos verdadeiros dissidentes cubanos, aqueles que enfrentavam tubarões para fugir da ilha e aportar nas areias de Miami para viver o sonho americano, nunca precisou passar por esse perrengue.
Quando quis, a brava dissidente cubana foi morar na Suíça, mas percebeu que entre chocolates finos e paisagens lúdicas logo seria esquecida por seus financiadores e por seu público ávido por heróis anticomunistas: a comunidade cubano-americana da Flórida, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) e, claro, o nosso glamouroso Instituto Millenium, da qual ela é uma das “especialistas”.
Assim, por motivos extremamente patrióticos, Yoani Sanchez voltou a Cuba para continuar sendo maltratada, torturada e perseguida pelo famigerado regime dos irmãos Fidel e Raul Castro.
Mais ou menos como Morena, da novela Salve Jorge, ao voltar para a Turquia certa de que, em momentos cruciais da vida, o Ibope é mais importante que a própria segurança.
Agora, Yoani Sanchez está chateadíssima com a reforma migratória baixada pela ditadura cubana, em janeiro, que acabou com a necessidade de se pedir permissão ao governo para sair do país. Será o fim da vitimização permanente da blogueira-prisioneira e de seus lamentos virtuais ecoados, por essas bandas, pelo que há de mais reacionário na mídia e na sociedade ocidental.
Será, também, o fim da bolsa-dissidente que a SIP paga a Yoani Sanchez para ela não ser obrigada a enfrentar as filas para compra de produtos básicos em Cuba, resultado direto de meio século do criminoso bloqueio econômico liderado pelos Estados Unidos. Tema, aliás, sobre o qual a blogueira não costuma se debruçar.
Yoani Sanchez, quem diria, terá, a partir de agora, que enfrentar a dura realidade de países capitalistas como o Brasil, onde milhões de pessoas gostariam de viajar a Cuba para conhecer as delícias, a cultura e a história desta ilha singular.
Mas não têm dinheiro para isso.
Sugiro ainda a todos a leitura deste artigo desassombrado:
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/com-yoani-os-anos-60-estao-de-volta
Será que esses paus mandados militantes remunerados do pt e pcdob,que na sua grande maioria,são infelizes ignorantes,sem expressão cultural quase nenhuma;uns tremendos leões de chacaras,dados a violencia,é o que na verdade eles sabem fazer:tem consciência,o que de fato Cuba sofre,nas mãos dos tiranos irmãos Castros?acredito que essa corja de exploradores do erário público brasileiro,não tem conhecimento de coisa alguma, do que ocorre naquela ilha do caribe;para covardemente ultrajar, agredir, a corajosa blogueira Yoani Sanches,que começou a andar pelo mundo,para denunciar as barbáries,que são praticadas pelos tiranos irmãos Castro a mais de cinquenta anos?com o aval do pt,pcdob e outros mentirosos partidos?demonstram,que são mesmos,paus mandados!e consciêcia política,está bem longe deles.
Os militantes do PT, em relação às manifestações contra Yoani Sanches, seguem seu alcorão, o livro 1984.
o cara que defende o capitalismo e o governo norte americano tem muito dinheiro ou nao le jornais; nos temos hoje mais de60% da populaçao analfabeta nao temos hospitais habitaçao muito menos o salario minimo outra vergonha onde esta a nossa liberdade so para dizer que estamos com fome
O perigo das ideologias anacrônicas é sua fragilidade diante da realidade que insiste em desobedecê-las. Tem sido sempre assim, qualquer força política, ao longo da história, se expressa, define suas estratégias e ações impreterivelmente com base em uma ideologia. Disso ninguém escapa. O problema é a certeza cega, religiosa que certas ideologias carregam em seu bojo. Aí reside um grande obstáculo que é a incessante mutação da realidade social, política e econômica.
Ninguém melhor que o próprio Marx identificou isso “Tudo que é sólido se desmancha no ar!” O caso dessas esquerdas – e, pasmem, me considero de esquerda, ou pelo menos progressista -, é que sofrem de uma incurável anorexia intelectual, e por conta disso, fixam-se em uma visão de mundo estreita e aprisionada ao passado. E bote passado nisso, lá pelos anos 1917 do Século XX.
Por essa limitação não perceberam que com o fim da experiência da União Soviética, cujo símbolo foi a queda do Muro de Berlim, a democracia se impôs como um valor universal. Tudo, qualquer que seja a ideologia, tem que partir necessariamente desta base histórica, a não ser que queira repetir-se como farsa (Marx, novamente).
Cuba e seu regime anacrônico e frágil – desconfio que os EUA só não desbloqueiam as barreiras econômicas porque usam Cuba como objeto político para ganhar votos na Flórida – para estes setores servem de suportes imaginários para garantirem suas fixações ideológicas.
Tudo que ameaça suas certezas religiosas gera a angústia, o terror. Foi assim com a Santa Inquisição com o fenômeno da histeria nas mulheres, foi assim com o Nazismo e suas certezas de superioridade da raça ariana com os judeus, ciganos e homossexuais, e é assim com a Igreja católica, que como “excelente mecanismo de defesa” instituiu a “Infabilidade Papal”.
A reação desproporcional e patética destes setores da esquerda diante de Yoani Sanchez expõe apenas seus medos e suas inadequações aos novos tempos democráticos. Como dizem, fazem parte do “lixo da história”.
O cerne do affair Yoani Sánchez não é a liberdade de opinião e derivados (a quem serve? Quem a financia? Quais os seus interesses etc.). O cerne da questão é a inviabilidade de um modelo de socialismo que se petrificou em tirania passada de irmão a irmão durante mais de meio século. Cito indiretamente duas fontes insuspeitas, pelo menos para a esquerda: socialismo em país pobre socializa apenas a pobreza. Liberdade é sempre e exclusivamente a liberdade de discordarem de nós.
Por fim, o que responder a um dogmático que denuncia o embargo imposto pelos EUA como a causa do fracasso do socialismo cubano? O que dizer então do outro, isto é, o soviético que alimentava este e caiu de podre?
Se você não ajusta as contas com o seu passado, acaba apedrejando Yoani Sánchez por crimes que você cometeu.
Algumas vezes, muito ajuda quem atrapalha. A blogueira Yoani já é bem conhecida dos brasileiros que leem jornais, pois publica comfrequ~encia no estadão, tem livros publicados e vendidos no brasil e, provavelmente, em sua estada no país, pouco ou quase nenhuma novidade traria. renderia algumas matérias nos jornais , nada mais. Faz tempo que não se falava tanto sobre Cuba e sobre ditadura e democracia. Os militantes que tentaram intimidar e impedir a sua apresentação jogaram holofotes em sua pessoa e, mais uma vez, se retomou a discussão sobre as necessárias mudanças a acontecerem na Ilha.
Quero ouvir o que diz Yoani e o que dizem os que sejam ccntra e os a favor. E não dou o direito a quem que que seja de me impedir de ouvir a quem queira e a fazer, a meu próprio risco, o juízo sobre ela e o que ela representa.
Da forma como foram feitos, os protestos demonstram a lamentável formação política dessa turma e, até mesmo a pouca inteligência tática: contribuiram apenas para atrair a atenção e a simpatia para a pressença dela, servindo pouco para, ou mesmo dificultando, a recepção crítica do que Yoani nos vem dizer.
João, tudo bem ? é um prazer enorme participar desse teu blog e pretendo acessa-lo mais vezes porque os assuntos tratados são muito interessantes. conforme conversávamos hoje pela manhã, eu desconhecia a militância política da blogueira cubana, porém foi feito tanto barulho que me chamou a atenção. por todos os lugares onde ela passava,lá estavam as viúvas da guerra fria com faixa e cartazes impedindo-a de se manifestar. Imediatamente me lembrei que o inefável Cesare Battisti não teve o mesmo tratamento. Muito pelo contrário,com acusações de homicídio em seu currículum, que não é o caso da cubana, foi tratado com deferências especiais pelo governo brasileiro e de outros países onde fez turismo e não lembro de faixas e cartazes pedindo sua extradição. Mas como dizem voces da revista, viva a diferença.
Seja bem vindo André! E considere a Revista Será um espaço aberto para a controvérsia.