David Hulak

Você e a torcida da seleção brasileira. Dos idosos às novas gerações, sobretudo estas. É um bom livro de história do Brasil de leitura fácil e interessante. Escorreita.

Refiro-me à tradução de “The Accidental President of Brazil”, editado aqui pela Civilização Brasileira sob o título “O improvável Presidente do Brasil”, por e sobre Fernando Henrique Cardoso.

O autor da versão original, Brian Winter, entrevistou, pesquisou e submeteu o texto a Fernando Henrique e este, por sua vez, a amigos que dominam mais o inglês do que ele. No prefácio, explicações sobre a iniciativa e referência às críticas positivas da imprensa ianque.

Lá foi publicado em 2006 e aqui em 2013 o que permitiu algumas atualizações.

Não é uma autobiografia como adverte o coautor brasileiro.

Achei que, de fato, é um relato por dentro de acontecimentos históricos dos últimos setenta anos, narrados por quem os assistiu, estudou, influenciou e promoveu.

Sugere sinceridade permeada por escorregões de falsa modéstia.

Há informações do cocheira, “potins” bom humor e importantes revelações mesmo para aqueles que desde o século passado vivem lendo os colunistas políticos nos jornais e revistas e para os sabichões.

Impressiona o cuidado dedicado às relações com Lula, passando a percepção de uma contida mágoa.

O leitor de mente aberta sem os preconceitos contra o narrador, anatemizado por uma longa campanha de desconstrução de sua imagem, entenderá a tal magoa e poderá dizer aos seus botões “se fosse comigo eu também ficaria assim”.

Pré- golpe, ditadura e combate a ela, Diretas Já, Plano Real, Reeleição, a sua Presidência e o agora está tudo lá com fatos e analises.

Há também curiosidades esclarecedoras sobre convívio com Jânio –estas, tenebrosas- Itamar Franco, Hugo Chavez, O Papa, Lady Di, a Rainha-Mãe (imperdível), Jacques Chirac, Bill Clinton, Bush filho, Tancredo Neves e muitos outros.

Encontrei injustas omissões, sabe-se lá por qual motivo, ao papel do comunistas do Partidão quando se trata das estratégias de combate à ditadura, isto é, luta armada ou movimentos de massa e ainda a Dante de Oliveira na luta pelas eleições diretas.

Passa por cima da importante negociação da dívida externa e o relevante papel de Pedro Malan. Aliás, apesar de ligeiras referências elogiosas a ele, a Raul Jungmann, Paulo Renato e José Serra quando aborda conquistas de sua Presidência, fica a impressão que todos eles executaram bem de ter sido o que o Presidente havia bolado. Será preciso outro livro, creio.

Também o seu histórico discurso no Senado pelas Diretas deixa a impressão de um ato voluntarioso e não uma “conspiração” das lideranças do MDB muito bem tramada e que lhe foi encomendado ser o porta-voz

Os ‘conspiradores” ou já morreram ou moram longe e quem aqui quiser passar à limpo pode perguntar a Silvio Batuchansky que mora no Recife.

Enfim, ressalto três coisas:

A primeira, minha satisfação como colega de Fernando Henrique, isto é na qualidade de sociólogo, pois nunca fui Presidente de nada e ele já não o é mais, por perceber em todas as suas análises sobre o país o viés da ciência e do socioleto que aprendemos, ele na USP e eu na UFPE.

A segunda, por perceber um farto material para a atual campanha eleitoral já que agora os seus companheiros não precisam se envergonhar do legado do governo de Fernando Henrique, uma verdadeira Geni.

A terceira constatação é a de que ele é capitalista e democrata.